A pesquisa Timeliness of diagnosis and treatment: the challenge of childhood cancers (Pontualidade do diagnóstico e tratamento: o desafio dos cânceres infantis) publicada em setembro de 2021, no British Journal Of Cancer, aponta que o diagnóstico precoce do câncer é um objetivo fundamental no tratamento da doença, pois melhora a perspectiva de cura, além de oferecer menor morbidade de tratamento e melhor qualidade de vida em comparação com o diagnóstico em estágio avançado.
Em adultos, o diagnóstico precoce por meio de programas de rastreamento leva à redução da mortalidade por causa específica. Em parte, vem da compreensão da história natural do desenvolvimento do câncer e seus determinantes, um deles, o estilo de vida. Mas, segundo a pesquisa, a influência desses determinantes no desenvolvimento da doença em crianças é pouco compreendida e pensada como sendo de menor importância do que a biologia do tumor, que se estima contribuir com 60% do prognóstico.
Os tumores em crianças tendem a ter períodos de latência curtos, crescem rapidamente e são invasivos. “Os sintomas iniciais podem ser confundidos com outras doenças, não serem investigados ou que os pacientes não façam os exames adequados para a identificação. Esse atraso vai estimular a progressão e impactar na sobrevivência”, alerta Vicente Odone Filho, oncopediatra e diretor médico do ITACI - Instituto de Tratamento do Câncer Infantil.
No mês de conscientização da doença, também chamado de setembro dourado, são desenvolvidas ações para promover a identificação precoce do câncer infantojuvenil e, como aponta o estudo, eles têm se mostrado benéficos, principalmente em países de baixa e média renda. “Materiais de comunicação que alertam para os primeiros sinais do câncer e cortes de cabelo gratuitos em estações de metrô, por exemplo, podem incentivar a população a entender sobre a importância do diagnóstico na fase inicial”, comenta Douglas Boscato, gerente da Fundação Criança (São Paulo).
O câncer infantojuvenil é uma enfermidade que representa a primeira causa de morte (8% do total) entre crianças e adolescentes de 1 a 19 anos no Brasil. Essa é a principal justificativa para incentivar o rastreamento da doença, que tem uma taxa de cura bem alta, em torno de 85%, desde que o diagnóstico seja precoce e o tratamento realizado em centros especializados.
Segundo a pesquisa, essa detecção precoce deve basear-se no reconhecimento clínico de sinais e sintomas. "Entre eles, febre persistente; náusea; nódulo ou inchaço ao redor do pescoço, abdômen, tórax, pelve ou axilas; palidez; dores de cabeça; dores persistentes em áreas do corpo; mudanças de visão; cor esbranquiçada atrás da pupila; e perda de peso repentina para procurar ajuda”, alerta Vicente Odone Filho, diretor clínico do ITACI, que conclui: “O diagnóstico precoce pode salvar vidas”.