Isolamento social, home office, queda nas viagens de turismo, redução no uso de veículos, câmbio desfavorável, o fechamento de fábricas e a escassez de componentes nas indústrias – esses foram alguns dos impactos causados pela COVID-19 e tiveram reflexo tanto na venda de automóveis, quanto de peças de fabricação e reparo. Um estudo global da consultoria KPMG, realizado em 2021, aponta que as perdas das montadoras por causa da escassez de componentes, devido à COVID-19, já somam US$ 100 bilhões. Como resultado desses efeitos, o setor automotivo passa por uma transformação nos modelos de negócios e tem mostrado cada vez mais preparo para inovar e crescer durante a retomada econômica.
Na edição de 2022 do Relatório da Frota Circulante, elaborado pelo Sindipeças/Abipeças, concluiu-se que, de maneira geral, o mercado de vendas de veículos novos deve crescer relativamente pouco nos próximos anos. Ou seja, com um menor índice de compra, o que aumenta é a frota de veículos usados e que não serão substituídos por novos modelos.
Marcelo Lisboa, proprietário da Lisboa Centro Automotivo em Porto Alegre, destaca que diante desse cenário, existem duas situações com grande potencial para o mercado automotivo: o de manutenção veicular e o de reposição de peças. Considerando que carros mais antigos, normalmente, necessitam de revisões e manutenções com mais frequência.
Outro setor que terá um crescimento significativo nos próximos anos é o da mobilidade elétrica. No caso dos veículos híbridos e/ou elétricos, embora a quantidade ainda seja irrisória, estima-se que atualmente o Brasil tenha uma frota de aproximadamente 100 mil veículos elétricos em circulação.
De acordo com o relatório "O Caminho da Descarbonização do Setor Automotivo", divulgado pela Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), em parceria com a Boston Consulting Group – BCG, traçou alguns possíveis cenários para o Brasil, considerando o segmento como um todo e as políticas públicas já existentes com relação a descarbonização. Em um deles, caso o país siga no ritmo atual de crescimento, a participação em vendas de veículos elétricos pode atingir a marca de 12% a 22%, em 2030, e de 32% a 62% em 2035. Diante disso, montadoras globais já têm se movimentado para adequarem-se a um padrão mais sustentável.
Tecnológica nas oficinas mecânicas
Com a baixa quantidade de novos veículos circulando, a tendência é que venha a ocorrer o que é chamado de "envelhecimento da frota". A preferência pelas oficinas independentes aumenta junto com a idade dos automóveis. De acordo com o Sindirepa, mais de 90% dos consumidores escolhem esse serviço após o vencimento do prazo de garantia do fabricante do veículo.
"As oficinas precisam acelerar o processo de modernização e investir em tecnologia e infraestrutura, para suprir a demanda crescente na reparação automotiva e acompanhar a entrada dos veículos elétricos", completa Marcelo Lisboa.
Soluções digitais para oficinas mecânicas
De acordo com o empresário, antes da pandemia de Covid-19, muitas pequenas e médias empresas do setor de reparação automotiva estavam satisfeitas apenas em ter a presença de sua marca on-line, normalmente com sites e contas de mídia social, sem tirar o máximo proveito do que o espaço digital tinha a oferecer. "No entanto, a crise desencadeou uma mudança de paradigma e obrigou as empresas a irem além do básico, e utilizarem a tecnologia para sobreviver".
Resultado disso, segundo Marcelo Lisboa, mais empresas estão começando a ver o potencial de construir uma marca forte no digital, mesmo passada a fase mais crítica da pandemia. "O que permite maior relacionamento e engajamento do consumidor, criando relacionamento com a marca".