O Brasil comemora, em 17 de outubro, o Dia Nacional da Vacinação, uma data para promover a importância da imunização no controle de epidemias. No entanto, de acordo com um relatório¹ publicado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) desde o início da pandemia de Covid-19, as vacinações infantis sofreram o maior declínio sustentado em cerca de 30 anos. Dados coletados mostram que a porcentagem de crianças que receberam três doses da vacina contra difteria, tétano e coqueluche (DTP3) diminuiu 5 pontos percentuais entre 2019 e 2021, para 81% em todo o mundo. A DTP3 é considerada um marcador de cobertura vacinal; se as crianças perdem essas vacinas, provavelmente também estão perdendo vacinas cruciais para muitas outras doenças.
No último mês de agosto, o Brasil iniciou uma campanha de multivacinação infantil, com foco especial na poliomielite e no sarampo. A meta da campanha nacional de vacinação do Ministério da Saúde contra a poliomielite é vacinar, pelo menos, 95% da população infantil menor de cinco anos. Até sexta-feira, 7 de outubro, apenas 62,50% das crianças entre um e cinco anos foram imunizadas contra a poliomielite, de acordo com os dados da plataforma LocalizaSUS.
A infectologista do Mater Dei Santa Genoveva, Franciny Marques Gastaldi, avalia que a eficácia da vacinação, e a consequente queda na frequência de certas doenças, foram interpretadas como sinônimo de segurança para descontinuação das políticas de vacinação. Associado a isso, após a era Covid-19, surgiram e foram fortalecidos os movimentos antivacinas, baseados nos efeitos colaterais possíveis e pouco prevalentes, que possam estar associados às vacinas. "Infelizmente, os movimentos antivacinas ganharam importante espaço no Brasil, reduzindo a adesão às campanhas de vacinação. Atualmente estamos diante da ameaça do retorno de doenças já antes erradicadas ou controladas, como a poliomielite, sarampo, rubéola e meningites". De acordo com a médica, as crianças afetadas por essas doenças podem desenvolver quadros infecciosos com sequelas irreversíveis - cegueira, surdez e outras neurológicas, ou até mesmo óbito.
A meningite, por exemplo, já causou 16 mortes em 2022 em Uberlândia, de acordo com a Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG). Este número, contabilizado até agosto, já é maior do que o total de óbitos somado nos últimos dois anos. O número de casos da doença também aumentou e já foram contabilizados 144. "Nesses últimos dois anos, a queda na adesão às vacinas promoveu o ressurgimento de doenças antes pouco vistas. Assim, lamentavelmente, teremos casos de doenças preveníveis, com sequelas e mortalidade elevadas, e de difícil controle de disseminação", alerta Franciny.
A meningite tem como possíveis sequelas a perda da audição e visão, problemas com memória, concentração, coordenação motora, equilíbrio, aprendizado e fala, epilepsia e paralisia cerebral. A infectologista acredita que, para retomar a confiança da população na vacinação, precisa-se reforçar as propagandas e campanhas, orientações e esclarecimentos por parte de todos os profissionais de saúde, a fim de tranquilizar os familiares na indicação e no momento da vacinação.
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