Novelas, filmes, reality shows e a exposição dos relacionamentos de casais famosos na mídia tiveram importante papel para que o termo “relacionamento tóxico” ganhasse destaque. Oportunamente, crescem os debates sociais sobre este tema, principalmente, com o expressivo aumento do número de agressões domésticas e feminicídio no Brasil.
Aliadas a isso, existem ainda diversas características de comportamento que são identificadas em relacionamentos disfuncionais. A doutora e especialista em psicanálise e saúde mental, Michella Marys, afirma que a Codependência Emocional é um desses sinais de alerta. Em entrevista, a especialista comenta sobre o tema.
No que consiste a Codependência Emocional?
Michella Marys: É um transtorno emocional de dependência considerado crônico no qual o indivíduo codependente acredita que depende emocionalmente do(a) parceiro(a). Esta crença faz com que aceite situações inadmissíveis para servir e salvar, pois deseja que o outro também se sinta dependente dela(e) e que fique sempre perto, sob seus olhos. Em função do transtorno, o codependente busca, através da relação com o outro, tudo o que falta em si mesmo, o que pode despertar comportamentos patológicos, já que ele deixa de viver a sua própria vida, anulando-se, para depositar grandes expectativas no relacionamento.
Quais as principais características da pessoa codependente?
Michella Marys: O indivíduo fica cheio(a) de dúvidas, inseguranças, falta de confiança, baixa autoestima, falta de amor próprio e o medo da rejeição, da perda e da solidão fazem com que a(o) codependente atraia “relações tóxicas” que disparam gatilhos e trazem à tona suas fragilidades: a necessidade de ser vista(o) e aprovado(a) faz com que submeta, corra atrás e, ainda, se sinta culpada(o) pelos possíveis desentendimentos no relacionamento. Para a(o) codependente os fins justificam os meios e tudo vale para suprir o vazio emocional existencial.
E o outro lado, como são as reações do(a) parceiro(a)?
Michella Marys: De um lado o codependente se anula, não se impõe, se submete e se doa em demasia; do outro lado, seu/sua parceiro(a) - consciente ou inconscientemente - fica na zona de conforto, manipula, desvaloriza, rejeita no cotidiano, pois não vislumbra mais a(o) parceira(o), mas uma sombra sobrevivente ao seu dispor, já que se perdeu nesse emaranhado de emoções ao tirar o foco de si para viver em função dele(a).
Quais situações cotidianas fazem parte desse tipo de comportamento?
Michella Marys: Quando a questão chega à um estado mais grave, um exemplo é: só o fato de saber que o(a) parceiro(a) saiu ou vai sair, causa na(o) codependente pavor ao pensar e já imaginar que o outro vai encontrar alguém na rua e desenvolver emoções amorosas por outra pessoa, mesmo sem ter os mínimos indícios para tal conclusão. Estes pensamentos invadem a mente da(o) codependente que tem a sensação que está num abismo. Ela(e) até deseja sair da situação, mas acredita que não consegue.
Para finalizar, o que fazer para evitar a codependência emocional?
Michella Marys: O mais importante é construir um caminho de autoconhecimento, perceber os gatilhos que desencadeiam determinados comportamentos e evitar as situações que expõem os envolvidos. Além disso, é crucial desenvolver a autoconfiança e a autoestima, algo que exige esforço e dedicação de qualquer pessoa. Além disso, a busca por tratamento psicológico é essencial para ajudar nessa trajetória de cura.
A psicanalista compartilha conteúdos e experiências diariamente através do seu perfil no Instagram, @michellamarys. Em dezembro deste ano, Michella se apresentará em São Paulo no evento de economia solidária “Arrasta para Cima”. O encontro reunirá nomes do empreendedorismo, espiritualidade e marketing como Paulo Vieira, Tadashi Kadamoto e Elainne Ourives.
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