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08/03/2023 às 20h27min - Atualizada em 09/03/2023 às 00h00min

Dia da Mulher: Conheça profissionais que estão transformando o mercado financeiro

Líderes do setor compartilharam conquistas e desafios de um segmento que ainda é dominado pelos homens

SALA DA NOTÍCIA Redação

Apesar das mulheres serem maioria na população brasileira (51,1%), de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2021, essa proporção não é a mesma no mercado financeiro. Mesmo com um leve crescimento de líderes femininas nesse segmento, um levantamento da provedora de índices Teva apontou que o setor financeiro tem, em média, 16,3% de participação feminina nos conselhos. Além disso, o estudo "Mulheres em Ações", da B3, realizado em dezembro de 2022, reforça esses dados: a cada 100 empresas com ações negociadas na Bolsa de Valores, 61 não têm mulheres em cargos de diretoria estatutária.

Pensando na importância da representatividade e na equidade de gênero no mercado de trabalho, profissionais femininas compartilham suas trajetórias e provam que, apesar dos gargalos, o segmento financeiro também é lugar para mulher.
 

Lara Thomazini, Head de Marketing da Fincare N26

Para Lara Thomazini, ter mais mulheres ocupando espaços de liderança é uma questão de justiça social, sendo também um imperativo para a construção de espaços de trabalho mais empáticos e acolhedores. “O lugar da liderança não pode ser tratado como o último a ser alcançado. É importante que ele seja o primeiro, o exemplo e a locomotiva de mudanças estruturais nas corporações e na sociedade”, ressalta. Para isto acontecer, ela completa que as mulheres, no geral, precisam ter acesso às oportunidades que já têm direito, em especial, as mulheres pretas.

 

Cristiane Nunes, Gerente de Política de Crédito da Provu

Cristiane Nunes, da Provu, fintech de meios de pagamentos e crédito pessoal, destaca que, mesmo que a porcentagem de mulheres com ensino superior seja maior que a dos homens, e a taxa de sucesso delas seja superior em todo o programa escolar brasileiro, a presença feminina em conselhos de empresas é, em média, próximo de 11% (Instituto Brasileiro de Governança Corporativa). Além disso, somente 38% dos cargos de liderança no Brasil são ocupados por mulheres (Women in Business 2022). 

Ela acrescenta que companhias com mais mulheres na liderança, quando comparadas com a média da indústria, veem um resultado operacional 48% maior e uma força de crescimento no faturamento 70% maior (Mckinsey Study). “Tornar essa relação mais justa, promovendo a equidade de oportunidades e, com isso, gerando empresas mais diversas, criativas e lucrativas, deve ser uma preocupação de companhias de todos os portes e setores”, ressalta.
 

Ana Tena CEO e Tatiana Loesch head de RH do Grupo Travelex Confidence

No Grupo Travelex Confidence, maior especialista em câmbio do mundo, o exemplo vem de cima. Sob o comando da CEO Ana Tena, a companhia aposta na presença de mulheres tanto na operação, quanto na liderança. Hoje, a empresa possui 52% de mulheres em cargos de comando e, em todo o Grupo, 59% dos colaboradores se identificam com o gênero feminino, fator ainda mais importante para o desenvolvimento dessas profissionais.

Para Tatiana Loesch, head de RH  da companhia, proporcionar um ambiente profissional diverso, gera impacto positivo em todas as camadas da organização. “É necessário motivar os talentos femininos, principalmente no setor financeiro. Ter igualdade dentro do corpo executivo é importante para a empresa e nós estamos trabalhando constantemente para promover a equidade de gênero. Na Travelex Confidence, temos a representativa liderança de nossa CEO Ana Tena, que é um forte exemplo de que, mesmo no mercado financeiro, mulheres competentes e comprometidas chegam aonde quiserem. Aqui, mais da metade da nossa liderança é feminina, assim como a totalidade da nossa população. Também oferecemos diversos serviços e benefícios que facilitam a vida da mulher que concilia trabalho, família e cuidados com a saúde. Apoiamos nossas colaboradoras para que realizem o máximo de seu potencial e concretizem seus objetivos profissionais e pessoais”, comenta.

 

Michele Pines, Diretora de Gente & Gestão da iugu

Para Michele Pines, Diretora de Gente & Gestão da iugu, empresa de tecnologia para gestão e automatização de meios de pagamento online, para que o processo de crescimento profissional das mulheres em ambientes majoritariamente masculinos seja menos doloroso, o ideal é se desfazer de algumas amarras que podem não colaborar para seu desenvolvimento.

“Desde o início da minha carreira atuei no mercado financeiro, em ambientes com uma cultura predominantemente masculina. Este cenário nunca me intimidou, já que busquei entender qual era o posicionamento de quem estava na liderança para, a partir daí, analisar o que eu precisava ter ou desenvolver para o meu crescimento. Acredito que cada vez mais as mulheres vêm protagonizando espaços, o que colabora para que mais mulheres se sintam à vontade para assumirem os destinos de suas carreiras.”

 

Thaís Fischberg, presidente da Adyen para América Latina

Em janeiro deste ano, Thaís Fischberg assumiu a presidência da Adyen, plataforma de tecnologia financeira preferida de empresas líderes. A executiva, que já atuava na empresa como vice-presidente da área de produtos, agora se torna a primeira mulher a assumir a liderança da empresa para a América Latina. Formada em publicidade e propaganda pela ESPM e pós-graduada pelo Insper, a profissional tem longa experiência no setor de pagamentos, com passagens pela Mastercard, Worldline, Santander e Grupo Movile. Com filiais no Brasil e México, a região teve uma receita líquida de €97.8 milhões no ano de 2022, crescimento de 31% na comparação com 2021, superando os 25% registrados em EMEA (Europa, Oriente Médio e África). Em um cenário global, a empresa alcançou receita líquida de €1,3 bilhão, aumento de 33% na comparação com 2021.  

 

Valquíria Matsui, Economista e Sócia da QI Tech

Apesar do mercado financeiro ser dominado majoritariamente por homens, as mulheres vêm tendo um expressivo crescimento no mundo dos investimentos, comenta Valquíria Matsui. “O mercado brasileiro é o mais evoluído do mundo e, atualmente, se reinventa a cada dia. Desta forma, é valoroso o despontar feminino no setor, uma vez que com dedicação, determinação e formação técnica, estamos contribuindo com novas inovações de forma ativa no mercado financeiro”, pontua.

Matsui aproveita e elenca para as novatas que estão começando a ingressar na área, que o setor financeiro e a rotina são processos completamente distintos um do outro e é preciso ter discernimento para atuar no mercado. “Se você deseja um trabalho com rotina, o mercado de finanças não é o setor adequado. Estamos em constante movimento, pensando em processos intuitivos e moldando os avanços da educação financeira”, finaliza a especialista.

 

Petra Studholme, CMO do alt.bank (novücard) 

Petra Studholme, com mais de 30 anos de experiência global no setor financeiro, comenta que quando há a vontade de constituir família e também quando há a necessidade de cuidar de parentes idosos ou frágeis, a responsabilidade recai, principalmente, para a mulher que, muitas vezes, precisa fazer uma pausa na carreira - ou abdicar - para tomar conta da situação. Muitas vezes, é nesse período que os colegas do sexo masculino avançam, sendo promovidos a cargos mais altos e ganhando salários maiores, criando uma lacuna de gênero que será difícil de superar. 

“As empresas também devem se atentar para o fato de que ter diversidade e inclusão em todos os níveis contribui e traz um importante aprimoramento em qualquer cultura empresarial”, diz Petra.

 

Priscilla Nicolellis, Coordenadora de Marketing da Creditú

Priscilla Nicolellis, da Creditú, fintech de empréstimos hipotecários com operações no Chile, Peru, México e Brasil, acredita que a luta da mulher por direitos e espaços iguais aos do homem é muito antiga. “Apesar de já termos evoluído como sociedade, infelizmente, em pleno século XXI, ainda é possível ver essa desigualdade no dia a dia e no mercado profissional. Algumas áreas e mercados ainda têm ambientes machistas e sexismo aparentes. O mercado financeiro é um desses que precisa estar mais aberto para mulheres e lideranças femininas”, diz. 

A profissional reforça que é de extrema importância esse equilíbrio de gênero para que a “engrenagem” da empresa gire de forma mais saudável, eficiente e acolhedora. “Mulheres têm total capacidade técnica para assumir posições de liderança e diria que têm até mais habilidades comportamentais, como empatia e resiliência, do que os homens. Estabelecer a igualdade de gênero dentro de uma empresa, contribuiu para a igualdade na sociedade”, finaliza Priscilla.

 

Alessandra Gontijo, sócia e diretora comercial da Investo

Para Alessandra Gontijo, sócia e diretora comercial da Investo, gestora de recursos especializada em ETFs, muito embora as mulheres estejam ocupando um espaço de maior destaque no mercado financeiro, ainda há um longo caminho pela frente. “Vejo que o número de mulheres ocupando cargos de liderança no mercado financeiro cresceu bastante nos últimos anos, mas a realidade é que ainda há uma disparidade muito grande se compararmos com as lideranças masculinas. Na minha opinião, ver mulheres em posições de destaque é um grande incentivo para as demais, pois demonstra que, apesar de todos os obstáculos da carreira, é possível ascender profissionalmente sendo mulher”, afirma.

 

Mariana Bonora, Diretora-Executiva da ABFintechs

A presença feminina no mercado de trabalho apresenta um grande crescimento e reconhecimento, mas com pontos a melhorar, aponta Mariana Bonora. “Minha percepção é que, nos últimos anos, realmente tivemos um aumento de consciência sobre o problema, mas a efetiva participação feminina não cresceu com a mesma velocidade. Boa parte do mercado está empenhado em testar soluções para que o ambiente de trabalho reflita a diversidade humana, mas ainda há muitos vieses inconscientes que precisam ser quebrados”, comenta.
 

Karine Nogueira, Diretora de Serviços da Sinqia

Karine Nogueira, da Sinqia, principal fornecedora de tecnologia para o mercado financeiro, aponta que os desafios são imensos dentro do segmento que atua, já que as áreas de Finanças e Tecnologia sempre foram muito masculinas. “Eu precisei me provar muitas vezes para o cliente e mostrar que, atrás de perfil um feminino, existe muito conhecimento e experiência. Às vezes, esse ‘provar’ é muito mais custoso do que para um homem, porque você não está inserida nesse contexto. Sempre precisei mostrar que dominava a forma como eu estava me posicionando e o que estava falando.  Por isso, sempre estudei e sempre precisei buscar conhecimento, porque a gente precisa se provar o tempo inteiro, embora o mercado esteja mudando”, aponta Karine.

Segundo ela, ainda existe um gap gigante do público feminino em lideranças em empresas de Tecnologia e do mercado financeiro, e, para que isso mude, as organizações devem estar dispostas a aumentar este funil e evitar cair no que é mais habitual, que é a contratação de homens. “As empresas precisam, sim, colocar metas claras e objetivos consistentes no desenvolvimento da mulher e cuidar da carreira dela, porque ainda estamos em uma cultura bastante machista. Mas, antes disso, as companhias precisam trazer mais mulheres, se responsabilizar e apoiar o crescimento dessas mulheres com metas e indicadores dentro da organização para que ela seja o tempo inteiro inserida dentro dos fóruns de discussão”, pontua.


Ana Paula Kleindienst, Chief Legal e Compliance Officer da plataforma de investimentos Guru

O  empoderamento feminino é  um grande aliado para quem trabalha em fintechs, segundo Ana Paula Kleindienst. “Trabalho como advogada há sete anos nesse setor e tenho muito orgulho do que conquistei. Valorizo muito as mulheres que conheci, inclusive, algumas mentoras cujos ensinamentos carrego comigo.  Não são raras as reuniões em que sou a única mulher e preciso demonstrar resiliência, paixão pelas minhas ideais e dedicação para ser ouvida. Tais características nos permitem suceder e desenvolver carreiras incríveis. É motivante conviver com outras mulheres para empoderá-las, ao mesmo tempo em que elas me empoderam”, diz.


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