A cirurgia bariátrica é uma intervenção possível para a reversão da obesidade e contenção das doenças a ela associadas. Apesar de ser considerada uma operação segura, ela exige um comprometimento do paciente com o pós-operatório - o que merece, inclusive ser analisado e considerado desde antes da cirurgia em si, uma vez que os riscos de problemas são muitos. Seguir essa série de cuidados pode fazer a diferença entre o sucesso ou não do procedimento.
A primeira medida é restringir a quantidade de comida. Obedecer a essa recomendação requer atenção a uma sequência de questões igualmente importantes, como pesar a quantidade certa de comida, mastigar bem, evitar alimentos processados, gordurosos e refrigerantes, o planejamento das refeições e a reposição dos nutrientes.
A falta destes, por sua vez, costuma acarretar diversos problemas de saúde como anemia, fraqueza, faltas de vitaminas e minerais, queda de cabelo, unhas descamadas, depressão, entre outros.
A obesidade é uma condição multifatorial, por isso, uma cirurgia que intervém drasticamente na vida do paciente acarreta muitas mudanças. Por isso, é fundamental o acompanhamento psicológico, porque muita coisa irá mudar.
Para saber como lidar com todos esses cuidados com a rotina e a saúde e se adaptar bem a todas essas alterações, separamos algumas dicas que você deve considerar.
Uma pessoa sem operação consegue comer de 300 a 500g. A pessoa que opera o estômago deve comer no máximo 200 gramas - e ela possivelmente não conseguirá comer mais que isso, pelo novo limite físico imposto ao estômago. Portanto, pesar a comida em uma balança (que pode ser uma atitude positiva para pessoas com qualquer peso) passará a ser rotina. Em consequência, comer 200 gramas também significa ingerir menos líquido durante as refeições.
Uma vez que a pessoa passa a comer menos, é crucial acertar na qualidade da comida que irá comer. Primeiro, a mastigação deve ser muito bem observada. Pessoas que fizeram a bariátrica produzem menos saliva, o que pode dificultar a deglutição - ou seja, é necessário mastigar e engolir devagar.
Antes de se adaptar a essa nova realidade, a pessoa pode passar a se entalar com a comida no esôfago. Com isso, ela terá que vomitar para conseguir prosseguir com a refeição.
Outra dificuldade relatada é a chamada dumping. Ao contrário da situação anterior, nesta, a comida atravessa o estômago muito rápido, chegando sem tratamento de digestão ao intestino delgado. Isso costuma acontecer com alimentos que levam muito açúcar ou gordura - portanto, evite-os.
Essa passagem causa dor na região abdominal, náuseas, diarréia e ainda dor de cabeça, taquicardia, sudorese e fraqueza. Estas manifestações podem aparecer de 30 a 60 minutos após a refeição ou mais tarde, cerca de de 1 a 3 horas depois. Caso ocorra, é recomendado aguardar deitado até a recuperação.
A quantidade de líquidos também precisa ser cuidada: a recomendação de 2 a 3 litros de água é a mesma - mas o espaço que ela irá ocupar dentro do corpo é menor. Portanto, uma orientação, principalmente para o primeiro mês é de tomar quantidades da ordem de 50 ml a cada 30 minutos.
Uma alimentação mais restrita requer o dobro de atenção. Os alimentos das refeições devem ser não apenas pesados, mas escolhidos pela sua qualidade. Se a quantidade do que pode entrar é menor, o que é ingerido é valioso e não há “espaço” para “fugidinhas” da dieta nem para comidas com as chamadas “calorias vazias”.
Em resumo: a preocupação essencial deve ser com os nutrientes, vitaminas e minerais. Para ingerir todos os necessários, é essencial escolher legumes diversos, frutas, verduras e se valer de todas as receitas disponíveis - com atenção para a consistência dos alimentos.
Existem três etapas relativas à textura da alimentação na dieta pós-bariátrica: a dieta líquida, a pastosa e na sequência a sólida. Líquida nos primeiros 15 dias, pastosa por cerca de um mês, e na sequência, a sólida.
Para ter sucesso nos meses em que a alimentação sólida já está estabelecida, uma dica é planejar as refeições, principalmente quando for sair de casa. Leve potinhos com lanche e marmitas com a comida já pesada. Assim, evita-se armadilhas.
Vale ainda ressaltar que os alimentos industrializados podem causar irritação nas mucosas envolvidas, bem como provocar dumping pela quantidade de gordura e açúcar que costumam levar. Refrigerantes e bebidas gasosas podem provocar mal estar devido ao gás que possuem.
Como a quantidade de alimentos diminui, é comum a ocorrência de anemia em quem opera o estômago. Por conta do desvio do duodeno, a anemia ferropriva é um dos problemas mais comuns após operações com o bypass.
De acordo com o Belt Nutrition, no primeiro mês, habitualmente são prescritos ferro e vitaminas B e D. A partir do segundo, o paciente passa a tomar um polivitamínico - que será de uso para a vida toda.
Mas é importante fazer exames regulares de sangue, pois mesmo tomando os suplementos prescritos, existe o risco da absorção de nutrientes ser abaixo do ideal ou da fórmula não ser facilmente absorvida (biodisponível), como a vitamina B12.
Além de comer menos e ter problemas como vômito e dumping, outro problema para a absorção de nutrientes é o aparecimento de intolerância alimentar.
Pesquisa da American Society for Bariatric Surgery (Sociedade Americana para Cirurgia Bariátrica), publicada em 2015, acompanhou 72 pacientes que fizeram cirurgia do tipo bypass e identificou que 49% deles apresentaram intolerância à carne vermelha no primeiro ano após a cirurgia.
A deficiência ou ausência de carne vermelha na dieta pode afetar as taxas de vitamina B12, iodo, vitamina D, cálcio, zinco e ferro.
A falta de vitaminas provoca fraqueza, dor muscular e óssea, problemas de memória e de visão, entre diversos outros problemas.
Dizem que a pessoa que faz a bariátrica tem duas vidas: uma antes e depois, tamanha a diferença que o procedimento causa no dia-a-dia. São diversos os pontos que um paciente precisa cuidar, a começar pelo progresso da recuperação. Principalmente nos primeiros dias e meses, pelo próprio pós-operatório.
Nos dias seguintes à cirurgia, deve-se ficar atento a sinais de febre - acima de 38º -, vômito persistente, apatia e confusão mental. Os membros inferiores também demandam atenção: qualquer edema, principalmente se for assimétrico, requer um olhar de profissional. Não hesite em procurar um médico.
Com a progressão do emagrecimento, começa a aparecer o excesso de pele resultado da gordura perdida. Isso não representa um problema de saúde, mas pode incomodar. Podem surgir dermatites e micoses, que precisam ser tratadas. De acordo com a evolução da perda e a estabilização do peso, pode-se considerar uma cirurgia plástica.
Uma questão que muda para as mulheres é a menstruação. A alteração na quantidade de gordura corporal afeta os hormônios femininos e pode-se parar de menstruar. Aconteça isso ou não, existe a indicação da implantação de um DIU ou anticoncepcional que suspenda o ciclo, para prevenir a anemia ferropriva.
Nos meses iniciais, costuma-se evitar esforço. Isso não é sinônimo de sedentarismo - exercícios físicos são necessários para a manutenção do peso e da saúde e não podem ser dispensados. Assim que o médico liberar, caminhadas leves devem ser feitas e vão sendo prolongadas com o tempo.
Exercícios aeróbicos moderados como bike, elíptica e esteira podem ser executados por, no máximo, 15 minutos. Após 60 dias, a duração pode ser de 20 minutos. E após seis meses, até 30 minutos.
Exercícios funcionais leves, que não envolvam abdome nem tudo que envolva o “core”, podem começar a ser praticados após 30 dias - inclusive porque sempre há o risco de uma hérnia pós cirurgia.
Em dois meses, o paciente começa a realizar exercícios de fortalecimento muscular e poderá começar a fazer exercícios abdominais leves. Após seis meses de cirurgia, a pessoa está liberada para todos os exercícios de musculação, exercícios funcionais, dança, hidroginástica, natação.
Todas as mudanças físicas e fisiológicas que a bariátrica traz, aliadas aos riscos pós-cirúrgicos e o medo de voltar a engordar, impactam na vida de quem opta pela operação. Por isso, é altamente recomendado o acompanhamento psicológico antes e depois da cirurgia.
A depressão já pode fazer parte da vida da pessoa obesa - e após tantas alterações, é possível que os sintomas surjam mais fortes. A prevalência da compulsão alimentar e o risco de se recuperar o peso de antes podem gerar sentimentos de frustração e de falha.
Todos esses sentimentos precisam ser conversados com um profissional. É importante reforçar também que a rede de apoio “opera” junto com o paciente, então família e amigos necessitam ser pacientes, positivos e oferecer conforto.
Apesar da série de cuidados que a cirurgia bariátrica impõe, os benefícios em termos de qualidade de vida fazem valer a pena. É importante que a pessoa que opte por essa decisão tão importante, tenha em vista os objetivos a médio e longo prazo.
A bariátrica diminui a incidência de doenças como a hipertensão, o diabetes, problemas no fígado e alguns tipos de câncer. Aumenta a fertilidade e contribui com a vida sexual, aumentando a libido. A qualidade do sono melhora, há aumento da auto-estima, e, por consequência, a melhoria da saúde mental. As mudanças de estilo de vida vêm para ficar e esse é um ganho inestimável.