Em um momento importante para repensar como incentivar a formação de (novos) leitores no Brasil, as celebrações do Dia da Biblioteca (9/4) e do Dia Internacional do Livro (23/4) servem como oportunidades para reflexão sobre o atual cenário da leitura no país e as alternativas para transformá-lo. As bibliotecas comunitárias são, nesse contexto, espaços essenciais para reverter a preocupante queda no número de leitores no país.
A mais recente edição da pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, publicada em novembro pelo Instituto Pró-Livro, traz números que pedem atenção: o Brasil perdeu 5 milhões de leitores entre 2019 e 2024, considerando a estimativa populacional. Entre as crianças do Ensino Fundamental I, a leitura caiu de 49% para 40%, e na faixa etária de 5 a 10 anos, o percentual de leitores diminuiu de 71% para 62%. Ao todo, 36% têm alguma dificuldade com habilidades de leitura.
Um dado particularmente preocupante é que 85% dos não leitores afirmam que nunca receberam influência ou incentivo para a leitura. Ao mesmo tempo, 55% das crianças de 5 a 13 anos gostariam que pais ou adultos lessem para elas, mostrando a existência de um grande descompasso entre o desejo e a realidade.
Entre todas as regiões brasileiras, a região Norte foi a que registrou a maior queda no número de leitores, de 63% para 48% em cinco anos. É lá que há 24 anos a Vaga Lume, ONG de Educação que há 24 anos implementa bibliotecas comunitárias em regiões rurais, ribeirinhas, indígenas e quilombolas da Amazônia Legal brasileira, e promove a formação de mediadores, estimulando a leitura justamente onde os livros estão mais distantes — e são mais desejados.
Em contraste com o cenário nacional, os dados da pesquisa anual de avaliação das bibliotecas Vaga Lume trazem resultados animadores: só no ano passado, por exemplo, a organização impactou diretamente crianças e 15.388 adolescentes e jovens. Nos últimos dois anos, as bibliotecas comunitárias da rede registraram uma média impressionante de 58.549 livros emprestados anualmente. Nove em cada dez crianças frequentadoras dessas bibliotecas pedem mediação de seus livros favoritos, e 87% fazem mediações para outras crianças, criando um ciclo virtuoso de leitura.
Desde sua criação, em 2001, a Vaga Lume acumula números expressivos:
“As bibliotecas da Vaga Lume são comunitárias, um equipamento cultural da comunidade. E elas só existem porque existe esse engajamento comunitário, porque as pessoas se mobilizam para mantê-las ativas e relevantes”, afirma Lia Jamra, Diretora Executiva da Vaga Lume. “Na verdade, a gente chama de ‘biblioteca’ porque elas armazenam livros, mas as bibliotecas comunitárias da Vaga Lume são espaços de brincadeira, de convivência, de troca. São muito diferentes da imagem convencional que as pessoas têm de uma biblioteca, um lugar de silêncio, pessoas quietas em suas mesas. As nossas bibliotecas são espaços alegres, pulsantes e vivos”.
Em 2024, sete em cada dez bibliotecas ONG realizaram rodas de história e outras atividades culturais em suas comunidades, com uma média de oito atividades por ano. A satisfação das bibliotecas em relação ao acervo de 2023 alcançou a aprovação de 93%. Enquanto os dados nacionais mostram que apenas 23% das crianças e adolescentes leem por diversão, as bibliotecas comunitárias da Vaga Lume mostram que é possível transformar a relação com a leitura quando por meio de ambientes acolhedores e estimulantes para os jovens leitores. Antes de fazer as pessoas lerem mais, é preciso fazer com que elas gostem de ler.
“O resultado de todo esse trabalho são crianças leitoras, que desenvolvem o hábito leitor, e que encontram prazer nessa atividade. E isso passa diretamente por esses jovens terem um espaço propício, com pessoas que proporcionam e estimulam a leitura”, afirma Jamra. Ela destaca que uma boa curadoria, marcada por bibliodiversidade, é fundamental para que o interesse das crianças pelos livros se desenvolva. “A gente se baseia num tripé: uma biblioteca convidativa, com estrutura adequada, livros diversos, de capas, cores, e tamanhos diferentes, que atraem a atenção das crianças. Dentro deste espaço, vem o trabalho de formação dos mediadores de leitura, que são as pessoas que fazem a ponte entre as crianças e os livros. E, completando o pilar, vem a comunidade engajada e gerindo esse espaço de leitura e troca. Esse é um formato bem sucedido há 23 anos, garantindo a formação de crianças e jovens leitores, interessados e engajados nos livros”.
Notícia distribuída pela saladanoticia.com.br. A Plataforma e Veículo não são responsáveis pelo conteúdo publicado, estes são assumidos pelo Autor(a):
NAYANNE MARIA DOS REIS MOURA
[email protected]