Nos últimos anos, o Brasil tem enfrentado um aumento alarmante de transtornos mentais, como depressão, ansiedade e burnout. Em 2024, o Ministério da Previdência Social registrou 472.328 licenças médicas por motivos psicológicos, um crescimento de 68% em relação ao ano anterior. Esse número foi o maior registrado na última década - escancarando a urgência de ações estruturadas nas empresas - e coloca o futuro do trabalho no centro das discussões sobre saúde mental, ética e carreira.
O cenário crítico fica ainda pior quando comparamos com a última década. Em 2014, quase 203 mil brasileiros foram afastados do trabalho por transtornos mentais. Já em 2024, o número ultrapassou os 440 mil afastamentos, um recorde histórico. Nesse contexto, a atualização da Norma Regulamentadora nº 1 (NR01), que entra em vigor em maio de 2025, representa um avanço crucial para o bem-estar nas organizações.
A nova diretriz exige que as empresas realizem uma avaliação dos riscos psicossociais no ambiente de trabalho, abordando questões como assédio moral, pressões excessivas, jornadas de trabalho extenuantes e relações interpessoais tóxicas. Com essa medida, a NR01 reconhece a saúde mental como um componente essencial da saúde geral dos trabalhadores e impõe às empresas a responsabilidade de atuar preventivamente, da mesma forma que já fazem com os riscos à saúde física.
Essa mudança de paradigma na legislação é fundamental, pois obriga as empresas a repensarem seus ambientes de trabalho, promovendo um olhar mais holístico sobre a saúde dos colaboradores. Até então, muitas políticas de saúde ocupacional se concentravam apenas nos riscos físicos, como acidentes e doenças relacionadas ao ambiente físico de trabalho. A introdução dos riscos psicossociais amplia essa visão, incluindo o bem-estar psicológico como uma prioridade.
O impacto da NR01 no cotidiano das empresas será significativo. A norma não só exige que os riscos psicossociais sejam identificados, mas também que as organizações adotem medidas concretas para prevenir e mitigar os danos causados por práticas como o assédio moral ou jornadas exaustivas. Isso implica em revisar políticas de gestão de pessoas e criar uma cultura organizacional mais saudável, colaborativa e respeitosa. O objetivo é oferecer um ambiente de trabalho onde os colaboradores se sintam protegidos, respeitados e, acima de tudo, mentalmente seguros.
Embora o cumprimento das exigências da NR01 possa parecer um desafio, ela representa uma excelente oportunidade para as empresas adotarem práticas mais alinhadas com as necessidades dos trabalhadores, especialmente no que se refere ao equilíbrio entre vida pessoal e profissional e à prevenção de doenças psicossociais. A norma nos leva a refletir sobre o que realmente importa para o bem-estar dos colaboradores, indo além das condições físicas do ambiente de trabalho.
No entanto, o grande desafio das organizações vai além de cumprir as exigências legais. A verdadeira questão é como transformar essas diretrizes em ações concretas que promovam a saúde mental e o bem-estar no cotidiano das empresas. Para isso, é fundamental ouvir ativamente os colaboradores, compreendendo suas necessidades, limitações e aspirações. A partir disso, é possível desenvolver políticas mais flexíveis e inclusivas, que reconheçam as particularidades de cada indivíduo.
Uma tendência crescente nas empresas é a adoção de benefícios flexíveis, como os oferecidos por meio de um cartão multibenefícios. Esse modelo reúne diversas modalidades de benefícios em um único cartão, permitindo que cada colaborador escolha como utilizar seu saldo de acordo com suas necessidades pessoais. As empresas que oferecem benefícios flexíveis já entenderam que cada colaborador tem suas especificidades e essa liberdade de escolha fortalece o bem-estar e o cuidado com a saúde mental. Seja para terapia, academia, alimentação saudável, para um estudo ou um momento de lazer, a flexibilidade e a personalização dos benefícios são uma maneira de fazer a diferença e impactar positivamente na qualidade de vida dessas pessoas.
Para muitos colaboradores, escolher como gastar seu saldo em uma farmácia ou uma terapia, por exemplo, pode significar a compra de medicamentos essenciais e um acompanhamento especial. Para outros, usar o benefício no transporte pode representar uma redução do estresse diário causado pela locomoção. Há ainda aqueles que optam por investir em atividades culturais ou de lazer, que ajudam a aliviar a pressão do trabalho e a promover um equilíbrio emocional. O ponto fundamental aqui é que não existe um único caminho para o bem-estar, e a flexibilidade de escolha é uma forma de reconhecer essa diversidade de necessidades.
Ao adotar os benefícios flexíveis, a empresa transmite uma mensagem clara: "Confiamos em você para decidir o que é melhor para a sua saúde e o seu bem-estar." E essa confiança fortalece o sentimento de pertencimento, promove o engajamento e, acima de tudo, contribui para um clima mais leve e saudável no trabalho.
A NR01 nos convoca a repensar a gestão dos riscos psicossociais, mas é importante lembrar que o papel do RH vai além dessas normas. O RH deve ser responsável por criar ambientes de trabalho mais humanos, empáticos e flexíveis. Isso envolve não apenas a implementação de políticas que atendam às exigências legais, mas também a construção de uma cultura organizacional que coloque o bem-estar mental no centro das preocupações diárias.
Cuidar da saúde mental dos colaboradores não é uma tarefa pontual, mas um processo contínuo que guia as empresas e os profissionais de RH a atuarem como verdadeiros agentes de transformação. No final das contas, a saúde mental é responsabilidade de todos, e, ao adotar uma abordagem mais flexível e empática, estamos contribuindo para um futuro mais saudável, produtivo e, sobretudo, mais humano para todos.
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MARINA ESCARMINIO DO NASCIMENTO
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