A busca por soluções alimentares que respeitem o meio ambiente e promovam saúde tem impulsionado uma transformação significativa na indústria de alimentos. Nesse cenário, tecnologias baseadas em fermentação ganham protagonismo. Entre elas, destaca-se uma inovação promissora: o uso da estrutura vegetativa dos fungos como base para ingredientes altamente nutritivos e sustentáveis.
Essa estrutura, conhecida como micélio, parte vegetativa dos fungos formada por uma rede de filamentos chamadas de hifas, vem sendo estudada por suas propriedades funcionais e pela versatilidade de aplicação. Dele, extrai-se uma proteína com sabor neutro e textura suave, o que facilita sua inserção em diversos produtos alimentícios, como carnes vegetais e derivados lácteos alternativos. Diferentemente dessas fontes, ele não apresenta amargor, o que amplia seu uso na composição de produtos voltados ao bem-estar nutricional.
Esse movimento tem sido acompanhado de perto pelo mercado. Segundo dados do Good Food Institute (GFI), em 2024, startups que utilizam a biotecnologia fermentativa como base tecnológica receberam quase quatro vezes mais investimento do que aquelas focadas em carne cultivada. O motivo é claro: a técnica apresenta maior potencial de escala e aplicação imediata, com menor dependência de recursos naturais e maior previsibilidade produtiva.
Outro estudo do mercado reforça essa tendência: um relatório da consultoria Markets and Markets. projeta que o setor de proteínas oriundas da fermentação deverá atingir US$25,2 bilhões até 2029, com uma taxa de crescimento anual composta de 9,9%. Essa expansão não apenas confirma o apelo comercial da tecnologia, como também evidencia sua relevância diante dos desafios climáticos e nutricionais enfrentados globalmente.
Além do avanço técnico, o contexto comportamental também favorece a adoção de ingredientes inovadores como o micélio. No Brasil, 81% da população afirma se preocupar com hábitos alimentares saudáveis, segundo levantamento da Confederação Nacional da Indústria (CNI). Essa preocupação se traduz em uma demanda crescente por produtos com menos gorduras, açúcares e sódio, e com maior densidade nutricional, exatamente o que essa solução pode oferecer.
Essa capacidade de oferecer alimentos mais saudáveis é potencializada pela eficiência produtiva do componente. Ao contrário das proteínas de origem animal ou vegetal, cuja produção depende de extensas áreas agrícolas e está sujeita a variações climáticas, o micélio pode ser cultivado de forma controlada em biorreatores. Essa característica permite não só a redução do impacto ambiental, como também viabiliza sua produção em larga escala em regiões urbanas ou com escassez de terra e água.
Diante desse panorama, a parte vegetativa cultivada desponta como uma das grandes apostas da nova era da alimentação. Ao reunir inovação científica, sustentabilidade e viabilidade econômica, a tecnologia promete não apenas transformar os produtos disponíveis nas prateleiras, mas também reconfigurar os próprios sistemas alimentares. Trata-se de um avanço que atende às necessidades do presente sem comprometer o futuro, e que, por isso, merece atenção de empresas, investidores e consumidores.
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Bruna Cruz Faraco
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