A ideia foi cruzar o conhecimento consistente que já existia de outros estudos científicos – que mostram os benefícios da atividade física na proteção contra esses dois tipos de cânceres –, com a incidência dessas doenças no Brasil e com a taxa de exercícios praticados pelos brasileiros. O dado sobre a atividade física vem da Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2013. Segundo o trabalho, cerca de metade da população (47,6%) não atinge nem sequer os 150 minutos semanais de exercícios recomendados pela Organização Mundial de Saúde (OMS). Entre as mulheres, a situação é pior (50,7%) que entre os homens (44,2%).
Os dados de câncer foram extraídos da OMS e do Instituto Nacional do Câncer (Inca). O câncer de mama é o mais comum entre mulheres no Brasil e no mundo. Por aqui, responde por 28% dos casos novos a cada ano. Para 2018, é estimado o surgimento de 60 mil registros. Para o câncer de cólon, a estimativa é de 36 mil novos casos.
“A literatura científica já traz um bom entendimento sobre os benefícios, mas não sabíamos ainda o impacto que isso teria no Brasil”, afirma Leandro Rezende, doutorando em Epidemiologia na Faculdade de Medicina da USP e primeiro autor de artigo. “A ideia foi comparar a carga de câncer atual registrada no Brasil com a que seria observada se a população tivesse um nível de atividade física ideal para a prevenção do câncer.”
Esse ideal, porém, admite o próprio pesquisador, é um número que assusta. Seriam necessárias 5 horas de atividade física diária para alcançar o máximo possível de prevenção – ou os 10 mil casos a menos, o que corresponde a 2,4% do total de registros de câncer hoje no País.
“Falamos isso dentro de um cenário teórico ideal. O objetivo da pesquisa não é dizer que tem de fazer isso, ainda mais considerando a vida de escritório nas cidades. A PNS mesmo mostrou que só cerca de 6% da população atinge isso hoje. É o que faz quem trabalha com atividades ocupacionais e caminha o dia inteiro, por exemplo, ou alguns atletas”, diz.
“Para efeitos de prevenção ao câncer, é como se ninguém fumasse, não tomasse álcool ou tivesse dieta perfeitamente saudável. É um cálculo sobre o quanto seria possível evitar, em termos de prevenção de câncer, quanto a gente conseguiria evitar”, complementa.
Em outra maneira de apresentar os dados, é possível dizer que 12% dos casos de câncer de mama pós-menopausa e 19% dos de câncer de cólon são atribuíveis à falta de atividade física no País. Com os 150 minutos de exercício por semana recomendados pela OMS, seria possível prevenir 1,3% dos registros de câncer de mama e 6% dos de cólon. À medida em que se aumenta a atividade física, os casos vão caindo mais.
O grupo que publicou o trabalho sobre exercícios físicos investigou também como a perda de peso pode reduzir a incidência de câncer no País. Artigo de abril apontou que poderiam ser evitados ao menos 15 mil casos por ano.
Os ganhos da atividade física contra a doença ocorrem, em boa parte, por promover perda de peso e de adiposidade. “Reduz inflamações, resistência à insulina, melhora o sistema imune e também reduz os níveis de alguns hormônios sexuais relacionados com cânceres”, explica o pesquisador Leandro Rezende.
A obesidade sozinha está associada a 13 tipos de cânceres (mama pós-menopausa, cólon, útero, vesícula biliar, rim, fígado, mieloma múltiplo, esôfago, ovário, pâncreas, próstata, estômago e tireoide).
Novos estudos vêm sendo feitos para checar os benefícios das atividades físicas também para essas outras doenças – trabalho que não é simples, porque envolve acompanhar grandes grupos por longo tempo. Mama e cólon são mais fáceis porque são os mais comuns. “No limite, a gente espera que, se a atividade física consegue reduzir peso e adiposidade, talvez possa ter efeito nos os 13 tipos”, diz Rezende.