Não estranhe se, ainda na maternidade, o pediatra apagar as luzes, pegar uma lanterninha e apontá-la para o olho do recém-nascido. Esse é o teste de olhinho, um exame que, por mais simples que pareça, ajuda a diagnosticar diferentes problemas oftalmológicos, de catarata a câncer.
“Ele é obrigatório na rede pública, deve ser feito em todos os bebês e não exige a presença de um oftalmologista”, explica Rubens Belfort Neto, oftalmologista da Universidade Federal de São Paulo. “A ideia é que os próprios pediatras façam essa triagem inicial. Se detectarem algo suspeito, aí sim devem procurar apoio dos médicos especialistas em saúde ocular”, completa.
Basicamente, o médico observa o reflexo da luz emitida pela lanterninha no fundo do olho do bebê. Se há alguma alteração na estrutura, esse reflexo ganhar uma cor diferente e pode não ser igual entre os dois globos oculares.
Catarata congênita, hemorragias e retinoblastoma – um câncer mais comum na infância e que, se diagnosticado tardiamente, torna-se muito grave – estão entre os problemas detectáveis pelo teste do olhinho. Até graus muito elevados de miopia ou hipermetropia são perceptíveis com esse exame.
“No entanto, ele não fecha o diagnóstico por si só. Sua função é levantar a suspeitas”, esclarece Belfort Neto. Se o método acusar uma estranheza, a criança precisa ser encaminhada a um oftalmologista, que fará uma avaliação minuciosa para entender o que pode estar ocorrendo.
Todo recém-nascido não deve sair da maternidade sem passar por esse exame. A partir daí, sua repetição e a avaliação oftalmológica em geral depende de cada um.
“Uma criança que aparentemente está bem pode voltar a realizar esse exame nas consultas de rotina ou por volta dos 3 ou 4 anos. E, então, mais uma vez aos 6 ou 7”, diz Belfort Net. “No entanto, isso varia demais. O importante é conversar sobre a saúde oftalmológica com o pediatra”, completa.
Bebês prematuros ou que sofrem com estrabismo e alergias oculares ou que já apresentaram problemas visuais obviamente precisam de um acompanhamento próximo com o oftalmo.
Não. Isso só muda de figura quando o profissional aplica colírio para dilatar a pupila, o que exige cuidados adicionais. “Mas esse não é o padrão, até porque as crianças se irritam com o uso da substância”, avisa Belfort Neto.
Esses remédios às vezes entram em cena quando o médico suspeita de uma anormalidade por causa do teste do olhinho. Isso porque a dilatação da pupila facilita a observação das estruturas oculares.
Aliás, até adultos podem fazer o teste do olhinho. “Mas, aí, é bem corriqueiro utilizarmos colírios, porque eles conseguem se preparar para os efeitos colaterais”, nota o expert.
Cabe lembrar que, após dilatar a pupila, a visão fica prejudicada por umas horas. Isso significa que o indivíduo não pode dirigir, operar máquinas perigosas ou sensíveis e por aí vai.
Segundo Belfort Neto, os pais e os médicos costumam notar quando a criança enxerga muito mal. O problema é quando um dos olhos enxerga normalmente, mas o outro apresenta alguma alteração.
“O que dá para fazer é tampar um olho da criança com a mão e, depois de um tempo, fazer o mesmo com a outra”, sugere Belfort Neto. Se ela chora ou fica brava só em uma dessas ocasiões, o médico precisa reavaliá-la.
Estrabismo e falta de atenção a objetos e a gestos dos pais também pedem exames. Acima de tudo, vale conversar bastante com o médico!