Nas últimas semanas, uma mensagem de voz com 5 minutos de duração está pipocando nos celulares dos brasileiros. Nela, uma mulher não identificada diz que a cebola cortada é capaz de atrair bactérias e, assim, provocar uma série de doenças. Quem nos alertou sobre o assunto foi nosso assinante Altair Gomes, que mandou um e-mail e pediu que fizéssemos uma avaliação sobre o assunto e informássemos se a acusação é verdadeira ou falsa. Agradecemos o seu contato e a sugestão, Altair!
Para averiguar essa história direitinho, procuramos referências nos estudos científicos e entrevistamos dois profissionais envolvidos com a área: a nutróloga Nayara Almeida Alvez de Oliveira, do Hospital e Maternidade São Luiz Anália Franco, em São Paulo, e o engenheiro de alimentos Edison Triboli, do Instituto Mauá de Tecnologia, em São Caetano do Sul. Os dois especialistas foram unânimes em afirmar que a alegação é totalmente falsa.
Para desmontar a farsa, nós transcrevemos o áudio do Whatsapp e vamos mostrar, ponto a ponto, todos os seus erros:
A autora do áudio se refere à gripe espanhola que, na verdade, começou em 1918 e matou de 50 a 100 milhões de indivíduos. Ela é considerada a pior pandemia da história da humanidade. Desinformações assim já levantam a suspeita de um conteúdo falso.
Dois erros crassos nesse trecho. Primeiro, não dá para visualizar um vírus no microscópio comum. Esse agente infeccioso só pode ser visto num microscópio eletrônico, que foi inventado no ano de 1931, bem depois da gripe espanhola. Em segundo lugar, a voz feminina diz que as cebolas “absorveram todas as bactérias”. Ora, a gripe é causada por um vírus, o influenza! As bactérias nada tem a ver com a doença.
Sim, a cebola pode até ficar preta se exposta no ambiente, pois entra em decomposição. Mas esse processo não acontece de uma noite para a outra e nem pela invasão de bactérias causadoras de pneumonia. Aliás, não tem como todos esses micro-organismos saírem dos pulmões de um indivíduo doente e migrarem, como num passe de mágica, para uma cebola. Veja só, até os antibióticos, remédios potentes fabricados para combater esse tipo de infecção, demoram alguns dias para trazer resultado.
O erro se repete: gripes e resfriados são provocados por vírus, não por bactérias. A nutróloga Nayara Almeida nos ajuda no trecho seguinte: “As infecções gastrointestinais podem ser causadas por vírus e bactérias. O contágio se dá majoritariamente por alimentos e água contaminados, em ambientes onde a higiene é precária ou há falta de saneamento básico. Não é adequado dizer que a cebola seria a causa única desses problemas.”
Baboseira pura. Se essa acusação fosse verdadeira, muita gente já teria morrido por aí. Não há nenhum relato na ciência sobre algum caso em que isso ocorreu.
Na verdade, não existe problema em utilizar um pedaço de cebola que restou de uma receita feita anteriormente. É importante, claro, usar sempre o bom senso: fique de olho no aspecto da hortaliça e descarte-a se perceber qualquer sinal de decomposição, como mudança na cor, na textura e no aroma. “Como ela tem um cheiro muito forte depois de aberta, o ideal é guardá-la na geladeira dentro de um pote com tampa de borracha, para impedir que o odor se espalhe para outros alimentos”, sugere o professor Edison.
Finalmente um trecho com uma dica bacana! Tanto o alho quanto a cebola contêm uma substância chamada alicina. Em cães e gatos, ela pode levar a um tipo de anemia conhecido como hemolítica. Em suma, trata-se da destruição dos glóbulos vermelhos no sangue. A intoxicação pode aparecer gradativamente e, para isso, é necessário que o animal consuma uma grande quantidade desses ingredientes.
Só que isso não tem nada a ver com bactérias. Na dúvida, converse com o veterinário de seu pet.
Uma atitude dessas não vai adiantar em nada e só vai deixar sua casa com um cheirinho, digamos, peculiar. Para evitar infecções, o melhor mesmo é adotar outras medidas que têm comprovação científica, como lavar as mãos com frequência (especialmente ao chegar em casa, no trabalho ou na escola) e tomar as vacinas disponíveis para a sua faixa etária.