Em nome do presidente Jair Bolsonaro, Rêgo Barros agradeceu ao ministro Bebianno:
— O presidente agradece sua dedicação à frente da pasta e deseja sucesso na nova caminhada — afirmou o porta-voz.
A demissão ocorre após uma crise ao longo de toda a última semana. O ex-ministro foi chamado de mentiroso pelo vereador Carlos Bolsonaro, na última quarta-feira. No Twitter, o filho mais próximo do presidente disse que Bebianno mentiu ao falar ao GLOBO que havia conversado três vezes com o presidente no dia anterior. A declaração foi dada para negar que ele estava protagonizando a crise. Na ocasião, Bebianno disse que só havia tratado de assuntos institucionais e não sobre uma possível instabilidade no governo.
Carlos chegou a compartilhar um áudio do presidente para Bebianno como forma de comprovar que não o houve uma conversa entre os dois. As mensagens foram posteriormente compartilhadas pelo próprio Bolsonaro.
O processo de desgaste de Bebianno começou com denúncias envolvendo supostas irregularidades na sua gestão à frente do caixa eleitoral do PSL, partido dele e de Bolsonaro, publicadas na "Folha de S. Paulo". Bolsonaro e os filhos, no entanto, acusam o ex-coordenador da campanha de vazar informações para a imprensa.
A "fritura" do ministro ocorria desde a transição, quando o presidente esvaziou a Secretaria-Geral da Presidência para tirar poderes do desafeto do filho. Durante todo o período de mudança de governo, Bebianno evitou declarações à imprensa e se cercou de militares em seu gabinete como modo de se blindar no Planalto.
Bebianno nega as acusações e promete, fora do poder, comprovar com textos e áudios que não mentiu e que não é responsável pelos casos de candidaturas laranjas nos estados. Ele também está disposto a rebater os ataques de Carlos Bolsonaro.
Na semana passada, políticos e militares atuaram para tentar debelar a crise e evitar a demissão. O presidente da Câmara, Rodrigo Maia, chegou a ligar para o ministro da Economia, Paulo Guedes, para dizer que a demissão poderia atrapalhar a aprovação da reforma da Previdência.
Na sexta-feira, durante uma reunião no Palácio do Planalto, Onyx disse a Bebianno que ele ficaria no governo, mas foi alertado a permanecer em silêncio.
No fim da tarde do mesmo dia, Bolsonaro e Bebianno se encontraram pessoalmente. O presidente chegou a a oferecer a ele um cargo na diretoria da hidrelétrica de Itapu, mas Bebianno recusou. Após uma conversa ríspida, com ataques de ambos os lados, Bolsonaro saiu decidido a demiti-lo e integrantes do governo vazaram para a imprensa que o ato de exoneração do ministro já havia sido assinado.
Eleitor de Bolsonaro, Bebianno se aproximou como um fã há dois anos. Ele se ofereceu para assumir a defesa do então deputado federal em ações judiciais, entre ele o processo por ofensas à deputada Maria do Rosário (PT-RS). Na ocasião, Bolsonaro disse que a parlamentar não merecia ser estuprada por que era "muito feia".
Outsider na política, foi Bebianno quem articulou a manobra que tirou Bolsonaro do Patriota e viabilizou sua candidatura pelo PSL. O advogado se tornou presidente da legenda, entre janeiro e outubro de 2018, e coordenador da campanha do presidente.
Bebianno acompanhava Bolsonaro pelas viagens no país. No dia que o então candidato foi atacado em um ato em Juiz de Fora (MG), acompanhou a cirurgia dentro da sala, ao lado de Carlos, seu desafeto. O ex-aliado passou 23 fias no hospital com o então candidato, junto com Carlos e a primeira-dama Michelle Bolsonaro.
Agora, fora do governo, Bebianno diz que voltará a advogar. Segundo o empresário Paulo Marinho, um dos mais próximos aliados do ex-ministro, ele não descarta seguir na política.