A Secretaria Estadual da Saúde (Sesab) investiga um surto da doença conhecida como mão-pé-boca no município de Nazaré, no Recôncavo, onde pelo menos 16 crianças foram infectadas. Todas elas são alunas de uma creche e já foram afastadas das atividades.
Em Salvador, ao menos 30 casos estão sendo investigados. O número pode variar, já que a doença não tem notificação compulsória.
“É um vírus altamente contagioso, mas não é grave, pois regride espontaneamente. A doença pode acometer os adultos, algo muito raro, mas é normalmente durante a infância, com mais frequência entre os 6 meses e os 3 anos de idade. Não existe vacina. O médico faz uma intervenção de acordo com a sintomatologia”, explica Audacira Teles, coordenadora do Centro de Informações Estratégicas em Vigilância em Saúde (Cievs), unidade da Diretoria de Vigilância Epidemiológica da Sesab.
A doença inicia-se com febre alta que é sucedida (cerca de dois ou três dias depois) por pequenas vesículas com líquido que surgem nas mãos, pés e boca, daí o nome. As bolhas vão se rompendo à medida que a doença evolui.
A transmissão ocorre por via oral/fecal, através do contato direto com secreções (por tosse ou espirro) e com objetos como chupetas, brinquedos ou fezes de crianças infectadas.
Por conta da via de contágio oral, tempos frios são mais propícios para a ocorrência de surtos da doença, já que as crianças costumam ficar mais tempo aglomeradas em um mesmo ambiente.
Segundo Audacira Teles, todas as providências em relação às 16 crianças de Nazaré já foram adotadas. “Elas foram afastadas do convívio com outras crianças de cinco a sete dias, tempo de duração da doença”, afirmou.
Salvador
Na última sexta-feira (6/4), Miguel Lago Lemos Santos, de 1 ano e 3 meses, começou a sentir febre. “Achei que era por conta de uma vacina que ele tomou no dia anterior. No domingo, além da febre de 38°, ele apresentava uns caroços na boca, braços e pernas”, conta o pai de Miguel, o jornalista Davi Lemos.
Miguel foi atendido no Hospital Santa Izabel, em Salvador. “Chegando lá, os médicos que o atenderam disseram que se trata de uma epidemia da síndrome mão-pé-boca, causada por um vírus. Ainda segundo a equipe do Santa Izabel, somente anteontem (segunda) foram mais de 30 casos lá. E muita gente está tratando dessa doença como se fosse catapora. Tem a febre, aparecem as bolhas que coçam bastante, mas não é catapora”, disse Davi.
A coordenadora do Centro de Informações Estratégicas em Vigilância em Saúde (Cievs), Audacira Teles, disse que, até o momento, a Sesab não foi informada da situação pelo hospital. “Tomamos conhecimento através da imprensa e determinamos que o Centro de Informações Estratégicas em Vigilância em Saúde (Ciev) de Salvador faça uma investigação”, declarou Audacira.
Município
A coordenadora da Vigilância Epidemiológica do Centro de Informações Estratégicas em Vigilância em Saúde (Ciev), da Secretaria Municipal de Saúde (SMS), Cristiane Cardoso, informou que a SMS também não foi informada dos possíveis casos da doença atendidos no Santa Izabel.
“Como não é uma doença de notificação compulsória, ou seja, não está na lista no Ministério da Saúde de comunicação imediata, para que faça parte do sistema de notificação e se possa encadear medidas de vigilância e controle, como a dengue, a gente não tem facilidade para saber dos casos”, explicou.
No entanto, Cristiane faz um alerta. “Já observamos alguns casos no Subúrbio Ferroviário e no distrito de Brotas”, afirmou.
Saiba mais sobre a síndrome
Segundo o médico Roberto Sapolnik, coordenador da pediatria do Hospital São Rafael/Rede D’or, a doença mão-pé-boca é comum. “E quando acontece é em surto ou epidemia, porque a transmissão é muito rápida de uma pessoa para outra, pelas vias respiratórias ou pelo contato direto das mãos, inicialmente com febre e dor de garganta, dificuldade para engolir, porque forma pequenas aftas na faringe e no céu da boca, que se espalham por toda mucosa e posteriormente por pequenas pintas e feridas nas mãos, pés e, às vezes, outras partes do corpo, como coxas, glúteos e troncos”, contou Sapolnik.
Como o quadro não é grave, o tratamento é à base de analgésico simples ou anti-inflamatório. “Pode causar muito incômodo, principalmente por conta da deglutição dolorosa. Às crianças devem ser ofertados alimentos de fácil deglutição, como pudins, purês, sucos, papinhas, de característica neutra, nem muito quente, nem muito frio, nem condimentado. Pode-se usar anestésicos tópicos na cavidade oral em forma de spray antes da alimentação e, como as feridas podem causar coceira durante a cicatrização, pode se utilizar também antialérgico”, declarou Sapolnik.
Quanto à contaminação, o coordenador da pediatria do Hospital São Rafael/Rede D’or disse que ocorre até que as feridas estejam cicatrizadas, ao redor de sete a dez dias, “período em que as crianças devem ser afastadas das atividades escolares”. A doença pode também ser transmitida para os adultos da mesma forma.
Ainda de acordo com ele, os pais devem ficar atentos aos seguintes sinais: desidratação (diminuição do xixi), fraqueza ou sinais de infecção por bactérias das feridas (secreção com pus e vermelhidão intensa e inchaço). “Aos primeiros sintomas deve-se procurar atendimento médico para que as orientações sejam adequadas, evitando-se uso de substâncias pouco efetivas e que podem aumentar o desconforto das crianças”, disse.