Almaques Gonçalves dos Santos, nasceu em 19 de janeiro de 1980 na cidade de Jacobina, Bahia. A partir do ano 2000 o artista fez suas primeiras apresentações em centro culturais e feiras de arte e cultura em Jacobina.
Em 2005 junto com artistas, fotógrafos e intelectuais baianos fez sua primeira mostra coletiva – Arte e Cidade; projeto esse que deu frutos e em 2006 com o apoio do Banco do Nordeste fez outra mostra coletiva da qual nasceu o livro Arte e Cidade Imagens de Jacobina tendo parte dessa exposição exibida na sala Pierre Verger na Biblioteca Central.
Em 2010, na Praia dos Livros, no Porto da Barra, Almaques fez uma pequena mostra chamada: 1001 Cópias, onde o artista mostrou o domínio sobre várias técnicas a partir de cópias de quadros de grandes mestres da pinturas.
Em 2011 após um tempo morando em Salvador e observando as ruas, a cidade e seus personagens atípicos ou não convencionais, Almaques,na Praia do Livros realiza a exposição: As cinzas da Pedra. Exposição esta que retrata o flagelo do crack nas ruas da cidade de Salvador. Exposição esta bastante criticada com direito a matéria exclusiva no Caderno 2 do jornal A tarde, e entrevistas em diversos canais de televisão. No mesmo ano junto com Adelina Rebouças e equipe participa como arte orientador do projeto Feira de Cores e Sabores que consiste na realização de oficinas de arte educação envolvendo grupo de aprendizes da APAE Salvador, para valorização do patrimônio cultural da feira de São Joaquim como elemento constitutivo da identidade coletiva.
Em 2013 é convidado para participar do livro A cidade e seu duplo. Da série Crítica Cultural do Programa de Pós Graduação da UNEB. Com lançamento no Cine Glauber Rocha.
A exposição A Cidade e as Serras constitui-se uma mostra de arte sobre a cidade de Jacobina, composta por telas pintadas a partir de registros fotográficos contemporâneos pertencentes a fotógrafos residentes na cidade de Jacobina, jacobinenses ou simplesmente filhos apaixonados.
A exposição é singular e atual, marcando também a transição do estilo próprio de pintura do artista na sua busca por um alargamento de perspectivas e por uma pulsação artística vibrante, desinibida e inquieta.
É afinal, um presente a cidade e a todos seus moradores, um registro belíssimo de nossa época, que causa deslumbramento e transmite toda a paixão do artista pelo seu ofício.
A feira, o pôr-do-sol, as ladeiras, o casario, as igrejas, o horizonte, os campos, cada paisagem emoldurada pelas serras de Jacobina é carregada de uma nova materialidade artística, carregada de afeições e sensações. Em cada fotografia usada como inspiração Jacobina é percebida, apropriada, retrabalhada e reinventada poeticamente, o cotidiano então, transforma-se em arte quando o modo de ver particular do artista ganha a apreciação do expectador em cada detalhe das obras.
Ao longo da apreciação das obras percebemos que elas são mais do que reproduções de locais, elas são passaporte para uma viagem única, carregada de sentimentos que nos levam a buscar novos e variados modos de ver, ser e sentir Jacobina.
A feira e o velho. Óleo sobre tela 50x70 cm. Foto: Saulo Corte. Entrevista concedida à Profa. Kátia Cristina Novaes Leite, pesquisadora na área de Arte e Educação e professora da APAE de Jacobina.
K.L. Quando e como você seu interesse pela arte e pela pintura?
Almaques- Não lembro ao certo, muito cedo, meus primeiros desenhos foram nas paredes e no sofá de couro vermelho que tínhamos na sala. Diante de tantas formas de expressão e interpretações críticas o que seria ou não arte, como avaliar um quadro de uma criança ou um Picasso na sua fase cubista? Sendo assim, considero meus primeiros ingênuos rabiscos de sofá minhas primeiras impressões artísticas.
K.L. Como desenvolveu seu estilo?
Almaques – Ainda o desenvolvo, acho que o estilo vai mudando ou se aprimorando com o tempo e a perspicácia de cada artista. Esse acesso gigantesco a informação rápida nos facilita a visualizar trabalhos de artistas de todo o mundo, o que antes não era possível, acho que a imagem em si já é bastante persuasiva assim como a cultura predominante em cada lugar pode influenciar nesse processo de formação da personalidade artística ou seja do próprio estilo.
K.L. Em geral, você utiliza bastante cor nas suas telas, qual ou quais os artistas que exerceram maior influência na sua arte e porque a preferência por natureza, no casso dessa exposição, as serras de Jacobina?
Almaques–Sempre tive bastante influência dos expressionistas e impressionistas, talvez o fato de maior identificação com o meu estilo. Van Gogh e Monet me servem de exemplos. Gosto de pintar natureza pela beleza da luz e sombra que propicia ao olhar e tento capturar ao máximo essa percepção. Gosto da estética, da plástica sugerida por essas paisagens, gosto da calma e do reconhecimento dos lugares que pinto. Quantos as serras... não tem como não vê-las e adentrar, subir e de lá de cima espiar a cidade em burburinho.
Casarão do Curralinho. Óleo sobe tela 50x70 cm. Foto: Alex Félix
K.L. Entendemos que a arte tem, por uma de suas metas, refletir o contexto social de sua época. Como a arte que você faz se caracteriza nos tempos atuais e o que estaria refletindo sobre o mundo em que vivemos?
Almaques – Para mim continua tendo o poder que sempre lhe atribuiu as grandes estéticas. Talvez a minha arte possa ser apenas um reflexo, porém útil como um gérmen transformador da realidade social.
K.L. A arte pode funcionar como uma válvula de escape para manter um maior equilíbrio emocional tanto daqueles que a "consomem" quanto dos que a produzem? Você acredita nessa afirmativa? Como seria essa relação?
Almaques – Minha relação com arte é bastante estreita. O grande artista deve aspirar para modificar o mundo em sua volta. Como um cidadão qualquer com um ideal de justiça, há também razões artísticas que se desprendem de sua obra e clamam por um mundo diferente. Não como arte política ou midiática,mas todo artista aspira desvendar-nos a natureza das coisas, não que a antecipamos essa possibilidade do conhecimento, todos trazem em si, o artista apenas ajuda a desperta-las. Parafraseando Nietzsche: Só a arte pode tornar o mundo mais suportável.
K.L. A cultura de massa e o constante apelo midiático pelo consumo se vêem refletidos nas expressões artísticas contemporâneas? Qual o seu posicionamento a esse respeito?
Almaques – Sem sombras de dúvidas. O grande público consume o que lhe é imposto como certo e bom, às vezes não há questionamentos, criando assim grandes distúrbios e imperfeições no modo de ver e refletir sobre as coisas, sobre o mundo, sobre a arte e sobre si mesmo. Aplicando-se a arte os lançamentos da sociedade de consumo me parecem nefastos, com o intuito de queimar estilos e impor novidades absurdas.
Atualmente a música tem sido bastante afetada como novos ritmos ou aberrações auditivas que chegamos a nos questionar sobre o que é e o que deixa de ser música, o que não é diferente nas artes plásticas e suas exposições e instalações contemporâneas que sob um manto diáfano de elevações críticas conceituais nos faz acreditar que isso seria uma nova vertente, um novo chamado da arte para um mundo novo; mas como tentar admirar e decifrar o que não tem nada pra se vê e nem ser admirado?
Rua da Aurora. Óleo sobre tema 80x100 cm. Foto: Saulo Corte.
K.L. Embora o cidadão comum não perceba, a arte está presente em seu cotidiano. De que forma você acha que a "arte elitizada", que fica restrita a uma determinada fatia da sociedade, pode ser disseminada a um público maior?
Almaques – O que seria arte elitizada, o que se expõe em galerias? Acho que a internet viabilizou bastante esse estreitamento para quem busca. Existe sites que se pode navegar por galerias famosas em todo o mundo, até no Louvre por exemplo, porém a dificuldade de acesso real a esses eventos, exposições, galerias se dá dadas as circunstâncias políticas e governamentais. Acho que tudo vem da educação e cultura de cada lugar criando assim um contato natural com esse mundo ou erguendo um muro de separação.
K.L. Como você vê o momento cultural no dias de hoje? A arte, em termos gerais, está empobrecendo ou mais uma vez cumpre com seu papel de refletir a sociedade?
Almaques – É uma ideia bastante ambígua. A ideia de arte pobre como os quadros de Romero Brito, é um símbolo que me faz reconsiderar a função da arte na sociedade, a ideia de que cada homem é um artista naquilo que faz, os (artistas) e as (obras de artes) já não seriam necessárias. A arte atual esta passando por esse processo de dissecação e de informação mal usada, temo que futuramente esses tempos sejam vistos como tempos negros e que precisem de outro renascimento. Também acredito que arte deve ser feita conforme o que lhe é dado ou atribuído, e que não devemos nos prender a conceitos e técnicas acadêmicas, mas como criar essa peneira para julgar o que é realmente bom e o que é ruim, e quem seria esse juiz?
K.L. Você pensa em se apropriar de novas linguagens, como a digital? Quais as suas perspectivas de futuro?
Almaques – Sim. No meu trabalho atual já me aproprio bastante do que a tecnologia me pode oferecer. A dez anos atrás teria que andar com um cavalete e telas no mais puro estilo romântico. Não penso em fazer arte totalmente digital, para mim isso seria um erro, mas posso usar esses meios ao meu favor; como por exemplo a fotografia que faz parte de quase todo esse novo trabalho que venho desenvolvendo. A fotografia junto com a tecnologia me propicia a comodidade artística e técnica de trabalhar confortavelmente em meu tempo. Hoje eu vou lá e fotografo, ou mesmo no Facebook me agrada a fotografia de outrem, ótimo, amanhã abro-a em meu notebook e a trabalho em meus estilo e técnica dentro de meu estúdio. Sei que com a fotografia não é a mesma coisa que o trabalho ao ar livre, se torna, digamos, mais fácil, porém meus quadros não são cópias fiéis das mesmas, o que os tornam únicos e expressivos. Em tempos de grandes trocas de informação em pouco espaço de tempo a tecnologia como meio de interligação entre arte e homem se torna quase imprescindível. Para o futuro acho que vou por esse caminho, apenas mudando a temática e usando novas linguagens que enriqueçam meu trabalho. Gosto bastante de meu trabalho e acredito no potencial que tem como arte dita universal.
O talismã. Óleo sobre tela 100x130 cm. Foto: Robson Guedes. K.L. Em sua opinião, o que falta atualmente para incentivar o gosto dos jovens pelas artes?
Almaques – É uma pergunta bastante política, e já que estamos em tempos de crise e corrupção no país, deve haver comprometimento com a verdade, com a educação... Acho que falta bastante apoio do governo, do estado, das prefeituras, da sociedade e de empresas privadas. Criação de oficinas artísticas, apoio e interesse com os artistas locais, respeito e incentivo às tradições, culturas e história de cada povo, de cada estado, de cada cidade. A inclusão e o reforço dessas oficinas nas escolas públicas e particulares principalmente no ensino fundamental e médio, e, deve também haver uma descentralização da arte apenas nos grandes centros sociais expandindo assim para todos os territórios e micro territórios.
Tela 01 - A Conceição. Óleo sobre tela 50x80 cm. Foto: Saulo Corte. Tela 02 - Rural. Óleo sobre tela. 80x100 cm. Foto: Alcícero.
A cidade e as serras III. Óleo sobre tela 60x120 cm. Foto: Saulo Corte.
Conteúdo extraído do catálogo da exposição, cujo material foi dado o crédito a:
Edição
Kátia Cristina Novaes Leite
Organização do Evento
APAE de Jacobina
Presidente da APAE
Doralice Francisca dos Santos
Apoio
Colóquio Desleituras em Série
UNEB, DCH – IV
Textos
Kátia Cristina Novaes Leite
Almaques Gonçalves