20/03/2020 às 21h52min - Atualizada em 20/03/2020 às 21h52min
CFF alerta sobre risco do uso hidroxicloroquina para tratar a Covid-19
Um pronunciamento feito pelo presidente dos EUA na quinta-feira (19) sobre a possível eficácia do medicamento hidroxicloroquina e cloroquina contra o coronavírus
Um pronunciamento feito pelo presidente dos EUA na quinta-feira (19) sobre a possível eficácia do medicamento hidroxicloroquina e cloroquina contra o coronavírus, fez com que muitas pessoas corressem às farmácias e drogarias para comprá-los. Mesmo sem evidências científicas, alguns decidiram se automedicar, fazendo com que o estoque desses medicamentos acabasse em diversas cidades. A situação alertou autoridades de saúde e pacientes que fazem tratamento com o produto no Brasil. É o caso da carioca Patrícia Cantero, que faz utilização contínua da hidroxicloroquina há dois anos para o tratamento de Lúpus.
Patrícia é parte de um grupo de pacientes com a doença crônica, que se comunicam e apoiam por meio de uma rede social. Na comunidade virtual, muitos demonstraram grande preocupação com a falta do medicamento. “Essa medicação é de suma importância pra nós e para os pacientes com doenças reumáticas. Então, por favor, não compre a medicação porque vai faltar pra quem realmente precisa que somos nós. É muito difícil encontrar a medicação e, em outros Estados, já está faltando também, normalmente ele já falta porque a distribuição ainda é pouca”.
A farmacêutica do Centro de Informação sobre Medicamentos (Cebrim) do Conselho Federal de Farmácia, Pamela Saavedra, ressalta que, até o momento, não existem estudos conclusivos que comprovem o benefício do uso e hidroxicloroquina e cloroquina no tratamento ou prevenção da Covid-19. Ela explica os riscos que as pessoas correm ao aderir à automedicação.
“Na maioria dos casos, o uso de doses elevadas não recomendadas pelo médico pode aumentar em muito o risco de ocorrência dos efeitos adversos desses medicamentos. Entre os danos ao organismo, estão: lesões na retina, o que pode afetar a acuidade visual. Outro efeito é adverso é a hipoglicemia grave, que põe em risco a vida do paciente que se automedicar. São medicamentos de uso crônico em pacientes com doenças reumáticas como artrite e lúpus. Esses pacientes fazem uso por longos período, muitas vezes, por mais de dez anos, pois eles não podem ficar sem o tratamento nem um dia, pois é o que mantem a sua doença controlada”.
Pâmela Saavedra reforça que é importante ouvir o que paciente tem a dizer em um momento como este que estamos vivendo e não apenas aqueles pacientes que têm Covid-19 ou estão em risco de contrair essa nova doença.
“Temos muitos outros pacientes que também estavam doentes, continuam doentes, em que estão cuidando da sua saúde. Nós do Conselho Federal de Farmácia e dos Conselhos Regionais convocamos todos os farmacêuticos a praticarem o uso racional dos medicamentos. Estamos num momento de enfrentamento à pandemia da Covid-19 em que a população mais precisa de orientação, informação baseada em fatos e que ajude a identificar as suas reais necessidades em saúde”.
A procura pelo medicamento levou a Agência Nacional de Vigilância Sanitária, nesta sexta-feira, 20 de março, a enquadrar a hidroxicloroquina e cloroquina como medicamentos de controle especial. A medida é para evitar que pessoas que não precisam do medicamento provoquem um desabastecimento no mercado. Os pacientes que já fazem uso dessas substâncias poderão continuar utilizando sua receita simples para comprar o produto durante o prazo de 30 dias. A receita será registrada pelo farmacêutico que já está obrigado a fazer o controle do medicamento no momento da venda. A nova categoria significa que o medicamento só poderá ser entregue mediante receita branca especial em duas vias. Médicos que fazem a prescrição de hidroxicloquina ou cloroquina já devem começar a utilizar este formato. O produto já estava enquadrado como medicamento sujeito à prescrição médica. Com a nova categoria, a venda irregular pelas farmácias é considerada infração grave.