28/03/2020 às 18h04min - Atualizada em 28/03/2020 às 18h04min
Mais atitude, menos postagem e mais união
A posição mais desastrosa para a sobrevivência da empresa que um micro ou pequeno empresário pode ter neste momento é assumir a bandeira de defesa do Bolsonaro, não que deva abandonar suas convicções políticas, mas neste momento com a expansão da pandemia do coronavírus, abalando a saúde e a economia mundial nós precisamos nos perguntar: quem será mais afetado? Claro que serão os pobres, os trabalhadores e os pequenos e médios comerciantes, a turma do Simples que tem menos liquidez. Mesmo diante da crise do governo da Dilma, da crise comercial EUA x China, do PIB de 1%, etc. a maioria de nós estávamos pagando todas as contas e até crescendo, ampliando negócios, modernizando lojas, investindo, melhorando nossas vidas, mas nossa liquidez sempre foi baixa se comparada aos grandes.
As Pequenas e Médias empresas, segundo o Sebrae, representam 99% das empresas do Brasil i.e. responsável por 75% dos empregos gerados. Por que agora na maior crise mundial dos últimos tempos vamos ser bucha de canhão de grandes empresários e banqueiros que tem interesses obscuros e representantes no primeiro escalão do governo? Deixa eles verbalizarem as bobagens nas redes sociais, não vamos reproduzir um mundo que não é o nosso por que nossa relação com nossos funcionários é diferente, é no dia-a-dia, sabemos seus nomes, sabemos onde eles moram e conhecemos suas famílias. A maioria dos nossos clientes não compram carros de luxo, joias caras, relógios de cinquenta mil reais, ternos de dois mil dólares ou deposita dinheiro no nosso caixa, a maioria são os colegas dos nossos próprios colaboradores, são os funcionários públicos, os aposentados, são os clientes do pão com manteiga. Estes fazem a gente prosperar e manter nossos negócios e nossas famílias.
Por isso o momento é de pressionar o governo, quem votou no Bolsonaro, bacana, mas tem que dizer para ele, votei em você e agora conto com o governo e não este apoio de cheque em branco que está existindo, pois até o momento, comparado a outros países as ações são tímidas e inexistentes. O que está ocorrendo com o dinheiro público destinado a minimizar a crise? Indo para os bancos, para o sistema financeiro para quando a crise passar exibir seus lucros fantásticos.
A postura correta tem que ser reivindicatória. Mais atitude, menos postagem e mais união. Precisamos exigir que o governo nos ajude a pagar a folha, liberando capital de giro sem burocracia e a conhecida lentidão dos bancos públicos, ampliar a carência dos empréstimos, reduzir os juros, rever as alíquotas do Simples, reavaliar o prazo da prorrogação do mesmo já editada, pois quem vai suportar em dezembro, com o ano de crise, pagar em um só mês o 13º e duas parcelas do imposto federal? O Sebrae deve iniciar atividades de capacitação dos empresários mostrando como enfrentar a crise, inclusive no aspecto mental, mantendo a motivação e a esperança; aumentar a taxação de imposto das grandes fortunas, aprovada na Constituição de 1988, há exatos 31 anos, e nunca regulamentada; impedir que o dinheiro público seja canalizado para os bancos sem nenhuma contrapartida para a população. Precisamos também exigir dos governos municipais e estaduais sua parcela de contribuição para os ambulantes, na esfera municipal e medidas que amenizem a cobrança do ICMS. Mais investimento no sistema SUS que é o plano de saúde da maioria de nossos funcionários. Pressionar seriamente o governo federal para aumentar o valor do auxílio financeiro para os trabalhadores informais de R$ 600 para um salário mínimo e também a forma de classificação utilizada para inclusão em programas sociais, pois segundo o IBGE, o Brasil têm mais de 40 milhões de trabalhadores na informalidade. Como afirmou o Abílio Diniz “É preciso gastar dinheiro. Dinheiro mesmo. Muito dinheiro.... o Guedes é liberal, mas em momentos de crise somos todos keynesianos“
Também é uma boa hora de olhar para as câmaras de vereadores e dos deputados e nos perguntar quem são nossos interlocutores? Quem vai defender os interesses do setor econômico que mais gera emprego no pais? Quem vai defender os interesses dos nossos clientes? Para qual deputado ou senador posso enviar as reivindicações da nossa associação ou sindicato? Qual meu nível de comprometimento com minha entidade de classe? O que ela está fazendo neste momento em defesa dos nossos interesses? A crise vai passar e tanto nós como os governos seremos avaliados. E quando a crise passar veremos para onde foram destinados os recursos públicos em um país que tem uma das menores cargas tributária do mundo, para os muito ricos e a maior para os pobre e a classe média.
Por Luciano Vieira, empresário do Simples.