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28/08/2020 às 17h46min - Atualizada em 28/08/2020 às 17h46min

Óleo em praias da BA provoca desequilíbrio ecológico e Ibio diz que reversão deve durar uma década: ‘Situação muito grave’

Conclusão ocorreu após o Instituto de Biologia da Ufba analisar dados sobre a biodiversidade, da densidade dos organismos vivos e também no branqueamento de corais, em praias do litoral norte baiano.

Por G1 BA
Moradores flagram manchas de óleo na praia de Subaúma, no sul da Bahia — Foto: Maurício Guardim
Quase um ano após a chegada do óleo nas praias da Bahia, Francisco Kelmo, diretor do Instituto de Biologia da Universidade Federal da Bahia (Ibio/Ufba), afirmou que o acidente provocou um grande desequilíbrio ecológico em algumas praias, e que só deve ser revertido em no mínimo 10 anos.

A conclusão ocorreu após análise nos dados sobre a biodiversidade, da densidade dos organismos vivos e também no branqueamento de corais, feita em praias como Praia do Forte, Itacimirim e Guarajuba, no litoral norte baiano.

“A gente concluiu que, para que haja uma recuperação plena, a gente estima no mínimo 10 anos. Isso se não houver nenhum fenômeno de grande escala que venha prejudicar a recuperação desses organismos. A chegada do óleo foi quase que catastrófico. Nós tivemos um acidente de grande magnitude, com resultados graves para o patrimônio natural", disse.

Na Bahia, as manchas começaram a ser registradas em outubro de 2019, quase um mês após o início do problema no país. Ao todo, as manchas atingiram nove estados do Nordeste e dois do Sudeste, totalizando 130 municípios. Mais de mil localidades foram atingidas, segundo levantamento divulgado em janeiro deste ano.

Em Salvador, segundo a Empresa de Limpeza Urbana do Salvador (Limpurb), as praias atingidas pelas manchas de óleo foram: Barra, Ondina, Rio Vermelho, Amaralina, Pituba, Jardim dos Namorados, Jardim de Alah, Boca do Rio, Patamares, Piatã, Itapuã, Stella Maris, Praia do Flamengo, Ipitanga e Jaguaribe e Pedra do Sal (Stella Maris).

Ainda de acordo com a Limpurb, 139,581 toneladas de óleo foram retiradas das praias até este ano.

Conforme Francisco Kelmo, a conclusão do grande impacto negativo ocorreu após analisar a situação marinha antes e após a chagada das manchas de óleo no litoral. O grupo tem um banco de dados que funciona desde 1995, e leva em consideração trechos como o da Praia do Forte, uma das mais visitadas do estado.

Ainda de acordo com o diretor, em relação a biodiversidade marinha, houve uma redução considerável. A perda chegou a 80%.

“Antes da chegada do óleo, em abril de 2019, nós tínhamos um número médio aproximado de 88 espécies diferentes a cada 35 m² de praia. Em outubro, com a chegada da macha de óleo, esse número caiu para 47. Depois do carnaval, de 47 passou para 17", contou.

“A gente repetiu as medidas em maio e junho, e não apresentou nenhuma melhora de biodiversidade. Nenhuma espécie que desapareceu voltou ao ecossistema. Isso é uma perda de 80% da biodiversidade total da região", afirmou.

Os dados do grupo observaram também a situação dos organismos vivos. Esses números também foram negativos.

“Antes da chegada do óleo, nós tínhamos uma medida de 446 a cada 35 m² de praia. Em outubro, logo quando chegaram as manchas de óleo, esse número baixou para 151. Após o carnaval, baixou para 77. Agora, em julho, para 74. Há uma redução contínua. Ou seja: teve morte e não teve nascimentos", falou

O diretor revelou também a situação do branqueamento de corais. A taxa, que era de 6%, passou para 85%.

“Nessa região, a taxa oscilava ente 5% a 6%. Com a chegada [do óleo], esse branqueamento chegou a 51,7% em outubro. Após o carnaval, esse número subiu para 84,7%. Tanto em maio e julho, esse número estava na casa dos 85%. Ou seja, também não registramos recuperação na saúde dos corais", comentou.

Ele comentou que isso desencadeou em uma perda maior, porque a chegada do óleo ocorreu em um momento muito importante: no período de reprodução.

“A gente tem perda de patrimônio natural. O óleo chegou em outubro. Esses organismos invertebrados se reproduzem anualmente entre setembro e março. O óleo chegou bem no período reprodutivo, o óleo interferiu no processo reprodutivo. A gente não tem apenas a perda da mortalidade causa pela ação inicial, mas também em função da reprodução”, falou.

Na prática, o resultado é um grande desequilíbrio ecológico, incluindo um comprometimento na cadeia alimentar.

“Isso tudo causa um comprometimento na cadeia alimentar. Esse comprimento causa um desequilibro ecológico. Qual a preocupação? O peixe que a gente come, vai chegar um momento que não vai ter alimento, e o pescador não vai conseguir pescar. É uma situação muito grave", pontuou.

Em junho deste ano, novas manchas de óleo foram achadas nas praias dos bairros da Pituba e Rio Vermelho, que ficam em Salvador.

Além desse material, os pesquisadores também tentam descobrir a origem das manchas de óleo que foram encontradas, também em junho, nas praias de Piatã e Jaguaribe, que também ficam em Salvador. Neste mesmo dia, uma tartaruga foi achada morta na região, mas não foi encontrado vestígios de óleo nela.


Investigações sobre o óleo

A Marinha do Brasil finalizou a primeira parte das investigações, mas sem apontar culpados. Segundo o inquérito, o petróleo foi derramado a uma distância de 700 quilômetros da costa brasileira e trafegou submerso por 40 dias.

De acordo com o diretor do Centro de Comunicação Social da Marinha, contra-almirante João Alberto de Araújo Lampert, a investigação confirmou que o óleo é de origem venezuelana, o que não significa que ele tenha sido lançado por navios ou empresas daquele país.

Segundo a Marinha, a investigação teve início com um universo de cerca de mil navios como possíveis fontes do vazamento de petróleo. E afirma que, hoje, há “alguns suspeitos”.

O relatório final da instituição foi encaminhado na segunda-feira (24) para a Polícia Federal (PF), que conduz o inquérito criminal. A PF informou que a investigação prossegue e que só vai se pronunciar quando os trabalhos forem concluídos.

Desde que as manchas surgiram, diversas hipóteses foram levantadas e até uma operação da Polícia Federal foi deflagrada em buscas de evidências sobre a origem do derramamento de óleo.

Em novembro de 2019, uma operação da PF levantou suspeitas de que um navio grego estaria relacionado com a contaminação do litoral brasileiro.

Em outubro de 2019, a Marinha do Brasil disse ter notificado 30 navios-tanque de 10 diferentes bandeiras a prestarem esclarecimentos na investigação sobre a origem do óleo.

Ao menos cinco navios gregos foram notificados oficialmente pela instituição, mas apenas três carregavam petróleo venezuelano, do mesmo tipo encontrado na costa brasileira.

Na época, por meio de nota, a Marinha disse ao G1 que seguia trabalhando em diversas linhas de investigação, com apoio do Ibama, da Polícia Federal, da Agência Nacional do Petróleo, agências e órgãos nacionais e estrangeiros, iniciativa privada, além de contar com peritos e pesquisadores da área científica e acadêmica.

Segundo a instituição, foi determinada uma área de investigação com base nos estudos oceanográficos das correntes marítimas e com isso, a Marinha reforçou que as linhas de investigação eram:

 
  • Afundamentos recentes ou antigos de navios
  • Derramamento (acidental ou intencional) durante manobra ship-to-ship ou trânsito de navios petroleiros
  • Descarte irregular de tambores de óleo encontrados nas praias do Nordeste

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