O sonho de se apresentar numa das dez melhores salas de concerto do mundo parecia extremamente distante. Com todas as dificuldades sociais impostas sobre as pessoas com deficiência, chegava a ser difícil até mesmo encontrar escolas de música para estudar. Mas, apesar de tudo, eles insistiram e hoje são protagonistas da Orquestra Parassinfônica de São Paulo, a OPESP - e se preparam, a partir do mês de julho, para os primeiros cinco meses mais importantes das suas carreiras musicais.
Estamos falando de pelo menos dez músicos com deficiência que, sob a batuta do maestro Roberto Tibiriçá, terão, pela primeira vez na vida, a oportunidade de vivenciar a rotina de uma orquestra sinfônica. Com coordenação pedagógica de Aída Machado, Mestre em Música pelo Departamento de Música da Universidade de São Paulo, os 32 músicos da OPESP (pessoas com e sem deficiência) passarão por quatro meses intensos de ensaios.
Por fim, para coroar este primeiro ano de vida da Orquestra Parassinfônica de São Paulo, eles sobem ao palco da Sala São Paulo - o mesmo pelo qual gigantes da música mundial também já pisaram - justamente no Dia Internacional da Pessoa com Deficiência, 03 de dezembro.
Inclusão e Protagonismo
“A missão da OPESP é empoderar musicistas com deficiência para que possam desempenhar seu efetivo protagonismo na sociedade”, explica Igor Cayres, mestre em atividades culturais e artísticas, idealizador e produtor da OPESP. “É preciso jogar luz sobre o capacitismo na música. Queremos garantir que as pessoas com deficiência estejam seguras, integradas e sejam valorizadas. Seja na OPESP ou em qualquer outra orquestra do mundo, nosso desejo é que estas pessoas não encontrem barreiras para revelar seus talentos ao mundo”, completa.
Humanização
A estudante de Licenciatura em Música Camila Moraes, de 22 anos, percorreu uma longa jornada no Rio Grande do Sul, desde os 10 anos de idade até compor o naipe de trompa da Orquestra Sinfônica de Porto Alegre. Periodicamente viajando oito horas para ir e voltar de Santa Maria até Porto Alegre, para essa amante da música, percorrer longas distâncias está longe de ser um problema.
“Quando eu vi as inscrições abertas para a OPESP inicialmente eu titubeei, mas decidi me inscrever porque eu decidi que é isso que eu quero fazer para o resto da minha vida”, comenta Camila. “Só de estar em São Paulo, participar da audição, conhecer músicos incríveis já tinha valido a pena, mas ter sido selecionada é indescritível e maravilhoso. A expectativa está alta, sei que vai mudar a minha vida para melhor e, com toda a certeza, eu vou me dedicar muito e fazer valer a pena todo o meu esforço até aqui”, completa.
Contexto
O levantamento mais recente do IBGE aponta que 8,4% da população brasileira acima de dois anos, o que representa 17,3 milhões de pessoas, tem algum tipo de deficiência. A pesquisa detalha que 7,8 milhões, ou 3,8% da população acima de dois anos, apresenta deficiência física nos membros inferiores, enquanto 2,7% das pessoas tem nos membros superiores. Além disso, 3,4% dos brasileiros possuem deficiência visual; 1,1%, deficiência auditiva.
Foi contrapondo esses números com a representatividade dessa população na música brasileira que Igor Cayres construiu o projeto da OPESP - para criação, desenvolvimento e promoção da primeira orquestra do Brasil protagonizada por músicos com deficiência.
Ao todo, 43 pessoas passaram pela fase de testes, sob avaliação de uma banca examinadora formada por professores e coordenação pedagógica educacional da OPESP. O corpo de professores e coordenadores pedagógicos educacionais da OPESP é composto por:
Aída Machado ( Coordenadora pedagógica da Opesp e dos cursos de Bacharelado e Licenciatura em Música da Faculdade Cantareira e da Pós-graduação em Educação musical na mesma instituição, professora da Escola Municipal de Música de São Paulo. Aída Machado é Comendadora, com a Ordem do Mérito Cultural "Carlos Gomes" outorgada pela Sociedade Brasileira de Artes, Cultura e Ensino, grau de alta distinção honorífica concedida pelos seus méritos em favor da música.
Horácio Schaefer (spalla das Violas da Osesp e violista do Quarteto Amazônia)
Davi Graton (professor da Academia da Osesp, integrante do Quarteto Osesp e fundador do Trio São Paulo)
Rogério Wolf (professor na Escola Superior de Música da Faculdade Cantareira, Escola Municipal de Música de São Paulo e Instituto Baccarelli)
Joel Gisiger (desenvolve atividade pedagógica na Escola de Música do Estado de São Paulo Tom Jobim, Instituto Baccarelli, Faculdade Cantareira, Conservatório de Tatuí e Academia da Osesp)
Fernando Dissenha (Trompete-Solo da Osesp)
Elizabeth Del Grande (professora da Faculdade Cantareira, da Academia da Osesp e da Escola Municipal de Música de São Paulo, de cujo grupo de percussão é diretora. É timpanista solo e responsável pelo naipe de percussão da Osesp)
Ana Valéria Poles (professora na Faculdade Cantareira e da Academia de Música da Osesp e Primeira Contrabaixista da Osesp)
Sérgio Burgani (clarinetista da Osesp e membro dos grupos Percorso Ensemble e Sujeito a Guincho)
Nikolay Genov ( Integrante da Osesp, professor da Escola Municipal de Música de São Paulo, e integra o Quinteto de Sopros Camargo Guarnieri, a Camerata Aberta e o Percorso Ensemble)
Romeu Rabelo (Fagotista e contrafagotista da Osesp e integrante do Trio Madeiras)
Marialbi Trisolio ( Violoncelista da Opesp e faz parte do grupo Art String Quartet e do Trio Manacá)
A OPESP é uma realização da produtora ProArte, por meio da Lei de Incentivo à Cultura, com patrocínio da Janssen, Vale, Minerva Foods, Marisa, Syngenta, Drogasil, Alfa Impacta Mais e apoio do Instituto Alfa de Cultura. A OPESP ainda conta com o incentivo do Programa de Ação Cultural do Estado de São Paulo, ProAC-ICMS, com patrocínio da JSL e apoio institucional da Secretaria de Economia Criativa e Cultura e da Secretaria da Pessoa com Deficiência do Governo do Estado de São Paulo.