Durante o segundo semestre de 2022, muitos profissionais começaram a discutir o movimento quiet quitting. Em tradução livre para o português, o fenômeno de “desistência silenciosa” consiste em trabalhar o mínimo necessário para cumprir as tarefas de determinada posição no trabalho, segundo artigo publicado pela Forbes.
Dessa maneira, os profissionais não engajam com deveres e tarefas que não estejam diretamente relacionadas com suas atividades, definindo um limite mais claro entre a vida pessoal e profissional, como acontecia na década 70. Na desistência silenciosa, as pessoas querem pôr fim à cultura do excesso de trabalho e sair do escritório em uma hora razoável, ou melhor, na hora exata combinada em contrato de trabalho.
Segundo a rede de notícias BBC, o termo viralizou após ser abordado em um vídeo na rede social TikTok postado no final de julho. O vídeo foi gravado por Zaiad Khan, um jovem engenheiro de 24 anos, que afirma que a ideia por trás do movimento é o indivíduo ainda cumprir seus deveres, mas não mais se submeter à cultura abusiva de que a vida se resume ao trabalho.
Uma pesquisa recente da Gallup relatou que aproximadamente 50% dos trabalhadores americanos estão praticando o quiet quitting. Em outras palavras, quase metade da força de trabalho dos Estados Unidos, principalmente os Millenials e a Geração Z, está buscando limites claros entre a vida profissional e pessoal, recusando o estilo de vida workaholic.
Flávia Lippi, especialista em neurociências, comportamento, saúde mental e inovação nas relações de trabalho, afirma que as discussões sobre o quiet quitting não focam a essência desse movimento.
“Existem discussões acerca do comportamento da geração Z, argumentando ser uma geração corpo mole ou preguiçosa, mas esse pode ser apenas o sintoma de uma estafa anterior a isso. O que realmente está em jogo é a saúde mental dos profissionais”, afirma Flávia Lippi.
Em entrevista para o Podcast Feliz Dia Novo, a pesquisadora explica os possíveis motivos que deram origem a esse fenômeno. “As pessoas estão exaustas e, por isso, pedem um limite. É o que esses movimentos de uma certa forma, estão pedindo. É um pedido de socorro, e também uma possível solução”, diz a especialista.
Quiet quitting e a saúde mental dos profissionais
Um estudo publicado em 2022 por pesquisadores da Escola de Saúde Pública da Universidade de Harvard na revista científica Lancet mostra que o trabalho é um dos pilares para a saúde e bem-estar da população. Segundo os pesquisadores, mudanças significativas ocorreram nas relações de trabalho alavancadas pela pandemia, ao mesmo tempo que se estabelece um cenário de agravamento de doenças mentais e psiquiátricas no pós-pandemia.
Portanto, entender as novas demandas e dinâmicas do trabalho é o primeiro passo para analisar as motivações por trás do fenômeno de quiet quitting. Segundo Flávia Lippi, o que está realmente em pauta é o pedido por um work-life balance; em tradução literal, equilíbrio entre vida pessoal e trabalho, que faça sentido para essa geração.
“Um equilíbrio maior entre a vida profissional e pessoal significa que os valores e a relação que os novos profissionais tem com o trabalho é diferente de gerações passadas, que hoje ocupa posições de liderança. É preciso entender esse novo ponto de vista para então estabelecer um diálogo em busca de soluções possíveis”, afirma Flávia Lippi.
De acordo com pesquisadores da Universidade de Harvard, as empresas focam normalmente na mudança de comportamentos individuais de profissionais. Porém, dada a abrangência desse movimento, o foco passa a ser a implementação de mudanças no ambiente corporativo como um todo, de modo a acolher as dificuldades e ansiedades de todos os colaboradores.
Algumas ações podem ser colocadas em prática para iniciar essa mudança:
Desse modo, as mudanças passam a serem pautadas no chamado work-life balance, um conceito que reflete o equilíbrio entre as demandas da carreira e da vida pessoal, priorizando a produtividade a longo prazo sem perder a saúde – física e mental.