Cuidar da saúde mental ainda não faz parte da rotina da maioria dos homens brasileiros. De acordo com o Ministério da Saúde, a morte autoprovocada é quatro vezes mais frequente entre os homens. Além disso, dados da Telavita, empresa pioneira em soluções digitais de psicologia e psiquiatria no Brasil, mostram que apenas 35,5% dos pacientes da plataforma se identificam como homens. Entre as principais queixas relatadas por esse público estão: crises de ansiedade, agitação, alterações de humor, sentimento de culpa e dificuldades nos relacionamentos.
Segundo Brunno Zacharias, psicólogo da Telavita, o estigma em torno da masculinidade ainda tem um impacto profundo na forma como os homens lidam com a saúde emocional. “Durante gerações, fomos ensinados que o homem deve aguentar tudo calado, ser forte o tempo todo e não demonstrar emoções. Esse modelo cultural ultrapassado nos distancia do autocuidado e alimenta o sofrimento silencioso”, afirma.
O levantamento da Telavita, realizado com mais de 23 mil pacientes entre maio de 2024 e abril de 2025, aponta que as gerações Millennials e Z concentram a maior parte dos homens em acompanhamento psicológico e também os maiores índices de sofrimento emocional. Entre os dados mais expressivos estão: 55% relataram crises de ansiedade, 41% foram diagnosticados com Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG) e mais de 3% apresentaram ideação suicida. Também foram observados casos de uso de substâncias e sintomas de agitação e culpa com frequência acima da média.
Para o especialista, o caminho para mudar esse cenário passa por reconhecer e desconstruir o modelo único e tóxico de masculinidade que ainda persiste. “Precisamos entender que não existe uma forma certa de ser homem. Buscar terapia, pedir ajuda e falar sobre sentimentos é saudável e necessário. O primeiro passo é acolher as próprias emoções sem culpa ou vergonha”, reforça Zacharias.
Entre os principais obstáculos enfrentados pelos homens na hora de buscar ajuda, o psicólogo destaca o estigma social, medo do julgamento, inibição emocional, solidão e falta de informação sobre os recursos disponíveis. “A terapia pode e deve ser personalizada. Muitos homens se sentem mais confortáveis com abordagens práticas e orientadas para resolução de problemas, o que pode ser um excelente ponto de partida para o processo terapêutico”, explica.
Além do trabalho individual, Brunno acredita que é essencial envolver também o ambiente de trabalho e a comunidade no cuidado com a saúde mental dos homens. “As empresas precisam ser agentes de transformação. Ao oferecerem programas contínuos de apoio emocional, criam espaços seguros para que os homens possam se expressar, refletir e se fortalecer. Isso impacta diretamente na qualidade das relações, da produtividade e da sociedade que queremos construir. Em muitas empresas já existem grupos de afinidade para que os homens troquem sobre esses temas”, completa.
“Se eu pudesse dar uma dica, seria: não se isolem. Pedir ajuda não é sinal de fraqueza, é um gesto de coragem e responsabilidade. Reconhecer nossas vulnerabilidades e emoções é essencial para sermos melhores pais, amigos, maridos, profissionais e seres humanos. Cuidar de si é também cuidar do outro”, conclui Zacharias.
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Louise Barbosa Favaro
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