Violência no trânsito
Por Eliane Kihara, engenheira mecânica e especialista do Mova-se Fórum de Mobilidade
KASANE COMUNICAÇÃO
30/07/2025 09h39 - Atualizado há 21 horas
Arquivo pessoal
Pela primeira vez, em 2025, o Atlas da Violência — elaborado pelo Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada (Ipea) e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública — resolveu escancarar uma realidade que é, muitas vezes, ignorada: a violência no trânsito. Para muitos, isso soa como uma novidade, mas não é. Já em 2010, a Organização das Nações Unidas (ONU) lançava a Década de Ação pela Segurança no Trânsito com uma meta clara: reduzir em 50% as mortes até 2020. O Brasil, no entanto, seguiu na contramão. Em vez de diminuir, registrou um aumento de 13,5% nas mortes em relação aos dez anos anteriores e entrou em uma nova década (2020-2030) repetindo o erro — sem ações estruturantes, e com uma tendência de aumento da mortalidade. Tal resultado, conforme apontado pelo documento do Ipea, possui como principal razão a explosão de mortes entre motociclistas, as quais cresceram 10 vezes em 30 anos. Enquanto as motos se multiplicaram nas ruas — impulsionadas pelo menor custo de aquisição e manutenção comparada ao automóvel, incentivos fiscais, transporte alternativo e, mais recentemente, em razão da utilização de motos em serviços de e-commerce elevada durante a pandemia — as políticas de trânsito não acompanharam, proporcionalmente, em investimentos na infraestrutura e gestão. Nesse cenário, infelizmente, quem paga a conta são os jovens de baixa renda. Isso porque, segundo o Ministério da Saúde, o perfil dessas vítimas fatais em lesões no trânsito é formado por homens, jovens entre 20 e 29 anos, com baixa escolaridade. De acordo com o órgão, para um homem, o risco de morrer pilotando é 7,4 vezes maior que para uma mulher. E Goiás ilustra bem essa tragédia silenciosa, já que, no Atlas da Violência 2025, o estado ocupa o 12º lugar em mortes de motociclistas, o que se confirma nos números do Hospital de Urgências de Goiás (HUGO), que de janeiro a abril de 2025, registrou 909 atendimentos por acidentes de trânsito, dos quais 75% pilotavam motocicletas. Além disso, é um drama social que fere a economia, uma vez que o Boletim Epidemiológico do Ministério da Saúde aponta que a violência no trânsito chega a retirar até R$50 milhões por ano do Brasil — só em custos hospitalares e perdas de produção. Contudo, não adianta responsabilizar apenas o condutor, pois, ainda que haja imprudência, excesso de velocidade e desrespeito às leis, o ambiente também empurra para o risco: ruas sem estrutura, trânsito misto, falta de planejamento urbano e de fiscalização. Enquanto isso, discutimos soluções rasas, como aumentar multas, sem tocar na raiz: infraestrutura segura, educação de trânsito de verdade, revisão de políticas de mobilidade. Portanto, para mudar esse contexto, é necessário fomentar e apoiar iniciativas intersetoriais entre governo e sociedade civil que priorizem a segurança viária, transporte e trânsito seguros. Sobretudo, é preciso encarar esse problema também como um desafio de saúde pública e de justiça social. Eliane Kihara é engenheira mecânica e especialista do Mova-se Fórum de Mobilidade Notícia distribuída pela saladanoticia.com.br. A Plataforma e Veículo não são responsáveis pelo conteúdo publicado, estes são assumidos pelo Autor(a):
CAROLINA OLIVEIRA DE ASSIS
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