O VII Congresso Nacional de Educação Católica, promovido pela Associação Nacional de Educação Católica do Brasil (ANEC), em Fortaleza (CE), em julho, reuniu milhares de educadores, gestores, pesquisadores e lideranças eclesiais de todas as regiões do Brasil e de outros países. O evento foi um marco de reflexão, partilha e reafirmação do papel insubstituível das instituições católicas no cenário educacional brasileiro, especialmente em tempos de crise civilizatória, emergência climática e avanço tecnológico.
Contando com a participação de 2.500 congressistas, 48 palestrantes em conferências e mesas-redondas, 15 salas temáticas replicadas, além de diversas programações paralelas na ExpoANEC, o evento reuniu mais de 300 estandes com soluções inovadoras, representadas por cerca de 100 patrocinadores e expositores. O congresso também recebeu representantes do Ministério da Educação, Conselho Nacional de Educação, CAPES, Secretaria da Educação, Governo do Estado, Legislativo Federal, Ministério Público e da sociedade civil, bem como representantes internacionais, como dois congressistas de Moçambique.
A partir do tema “Educação que Transforma: Educar, Cuidar e Esperançar”, toda a programação técnica e científica do evento foi iluminada, como resposta aos desafios contemporâneos enfrentados pela educação católica no Brasil. O Congresso reafirmou a identidade da escola católica como espaço de evangelização, inclusão e compromisso com a dignidade humana, tendo como pilares a formação integral da pessoa, a construção da paz e a defesa da vida em todas as suas dimensões — da espiritual à socioambiental.
Na abertura, o bispo Dom Francisco Agamenilton defendeu o papel das instituições católicas na garantia dos direitos constitucionais fundamentais, destacando que a escola de inspiração cristã deve ser, antes de tudo, lugar de acolhimento, justiça e promoção da dignidade. A diretora do Setor de Pastoral da ANEC, Ir. Carolina Mureb, lançou oficialmente o documento “Linhas de Ação Pastoral para Escolas Católicas”, resultado de ampla escuta das bases e direcionado a fortalecer a pastoralidade nas instituições de ensino, de forma coerente com a identidade e missão eclesial.
Também foi realizado o lançamento do livro “As Origens da Pedagogia Cristã”, de autoria do Pe. Charles Lamartine, segundo vice-presidente da ANEC. Em sua apresentação, Pe. Charles destacou que este é o primeiro volume de uma série intitulada “A Pedagogia Cristã”, uma iniciativa da SM Educação em parceria com o Núcleo de Escolas Católicas. A obra visa resgatar a filosofia e a pedagogia construídas ao longo dos séculos pela tradição da educação católica.
Durante todos os três dias de evento, os congressistas puderam presenciar belas manifestações artístico-culturais que expressaram a riqueza, a beleza e a força do povo cearense. As apresentações contaram com a presença de crianças, adolescentes, jovens e educadores das instituições de ensino: Colégio Juvenal de Carvalho, Colégio Nossa Senhora das Graças, Colégio Santa Cecília, e o Colégio Marista de Aracati. O evento também contou com a apresentação de uma quadrilha junina de alunos organizada pelo maestro Tiago Nogueira.
Nos dois últimos dias foram realizadas quinze salas temáticas com temas cruciais para a educação católica — desde o cuidado com a saúde mental, novas tecnologias, diálogo família-escola, gestão da Educação Superior, evangelização na pastoral das escolas e muito mais.
ANEC celebra 80 anos de protagonismo na educação católica brasileira
No segundo dia de evento, a programação foi marcada por uma solenidade especial em comemoração aos 80 anos da ANEC. O momento reuniu mais de dois mil participantes, entre representantes eclesiais, educadores, autoridades públicas e membros de instituições associadas, em um gesto coletivo de gratidão, memória e esperança. “É uma história que nos inspira a continuar promovendo uma educação transformadora, pautada no Evangelho e no compromisso com o bem comum”, disse Padre João Batista Gomes de Lima, diretor-presidente da ANEC, ao abrir oficialmente a celebração.
A cerimônia homenageou a trajetória da associação e ressaltou sua missão institucional ao longo das décadas. Pe. João relembrou a fusão das associações que originou a atual configuração da entidade em 2009 e enfatizou seu papel político e educacional no país. “A ANEC tem se feito presente em conselhos, fóruns e frentes parlamentares, fortalecendo a voz da educação católica em todo o território nacional”, afirmou.
Durante a solenidade, os coordenadores dos Conselhos Estaduais da ANEC foram agraciados com uma réplica do ícone comemorativo intitulado “Jesus Mestre da Esperança”, consagrado pelo Arcebispo de Fortaleza, Dom Gregório Paixão. A imagem irá peregrinar pelas escolas e universidades católicas de todo o país, como símbolo de fé e compromisso. Também foram prestadas homenagens aos membros do Conselho Superior da ANEC, reconhecendo sua liderança e dedicação à promoção de uma educação mais fraterna.
Ao final, um vídeo institucional foi exibido, celebrando com emoção a história da entidade e projetando seu futuro com esperança. “Que tenhamos fé e coragem para seguir adiante, com união e luz”, concluiu Pe. João Batista.
Mesas redondas aprofundam discussões sobre gestão, sustentabilidade e IA
O arcebispo de Goiânia e membro do Conselho Superior da ANEC, Dom Justino Medeiros, e a segunda-tesoureira e diretora do Setor de Pastoral da ANEC, Irmã Carolina Mureb Santos, participaram da primeira mesa-redonda sobre “Comunicar a fé em um mundo multifacetado: desafios e estratégias de fortalecimento da identidade confessional na Educação Católica”.
Outro ponto alto do Congresso foi o debate sobre governança e gestão, realizado na segunda mesa redonda “Governança de instituições católicas para um futuro promissor: transparência, responsabilidade, sustentabilidade e autonomia”, ministrada por Geani Moller e Jorge Siarcos. A discussão ressaltou que a boa gestão, quando inspirada por valores evangélicos, se torna instrumento de serviço, justiça e equidade. A escola católica precisa unir competência técnica e discernimento espiritual, para responder aos desafios contemporâneos sem trair sua essência.
Na terceira mesa-redonda, com tema “Educação Católica Inclusiva: espaço de acolhimento e respeito a todas as pessoas”, Rosemary Francisca e Suely Menezes falaram sobre o compromisso da escola católica com uma inclusão enraizada no Evangelho, que ultrapassa aspectos legais e administrativos. O mediador, Pe. Diego Andrade, lembrou que a inclusão é um imperativo cristão e educativo, enquanto os participantes defenderam a escuta ativa, a valorização da diversidade e o combate à exclusão nas suas múltiplas formas — sociais, econômicas, físicas, cognitivas ou afetivas.
Outro tema destaque no evento foi a “Educação em tempos de emergência climática”, que discutiu os caminhos da ecologia integral nas escolas católicas à luz da encíclica Laudato Si’, do Papa Francisco. Os palestrantes da segunda mesa-redonda — Marina Oliveira, Aleluia Heringer e Ir. Afonso Murad — enfatizaram que a crise climática não é um problema futuro, mas uma realidade urgente que exige resposta ética, pedagógica e espiritual.
A tecnologia também foi alvo de discussão qualificada. Na quinta mesa-redonda, sobre “Inteligência Artificial e Desenvolvimento Humano Integral”, especialistas analisaram os riscos, limites e potencialidades da IA no contexto educacional. O consultor Fernando Trevisani defendeu que a IA pode ser uma aliada poderosa dos professores, desde que usada com responsabilidade, intenção pedagógica e formação adequada. Reforçou que certas dimensões da educação — como escuta, afeto e formação ética — permanecem exclusivamente humanas.
Avaliação dos congressistas, expositores e palestrantes
“Inspirador, extraordinário, inovador e incrível” foram apenas algumas das palavras descritas pelos congressistas que vivenciaram os três dias do VII Congresso da ANEC. A psicóloga Luana, do Colégio Nossa Senhora das Graças de Fortaleza, elogiou a iniciativa do Congresso: “foi maravilhoso e cheio de aprendizados. Muito bom receber todo mundo na nossa terrinha. Consegui achar muitas coisas para a minha área e aprendi mais sobre inclusão e o aspecto socioemocional dos alunos”.
“Todos os eventos da ANEC são muito bons, aprendemos coisas novas para nos enriquecer como Rede Imaculada de Educação”, disse a Irmã Juliana, da Congregação das Irmãs Servas de Maria Imaculada do Paraná.
Na avaliação de Dom Justino, Arcebispo de Goiânia, o evento ocorreu em um momento muito especial da igreja que é a “transição do Papa Francisco para o Papa Leão XIV” e reforçou a identidade das escolas católicas que precisam estar alinhadas com os ensinamentos do Evangelho. “A escola católica, precisa viver essa dinâmica, que é própria do ser humano cristão, daquele que abraçou a fé cristã, que é uma pessoa aberta ao diálogo, a acolhida, uma pessoa disposta a seguir o ensinamento do Evangelho. O evento é uma oportunidade de revitalizar a paixão por educar perfeito”, ressaltou o arcebispo.
Para o professor Israel Batista, um dos palestrantes das mesas temáticas, o evento tem uma “magnitude muito importante” e “vai colocar a estrutura das escolas católicas cientes da nova responsabilidade que os educadores passam a ter a partir da disrupção tecnológica”. “Vamos deixar nossas escolas mais preparadas para lidarem com os desafios do novo século”, disse.
Já o deputado federal Luiz Gastão (PSD-CE), presidente da Frente Parlamentar Católica, destacou a relevância do evento para reforçar a importância da educação católica no Brasil. “Eventos como esses são importantes para que nós possamos fazer uma reflexão do significado do ensino católico para a formação do povo brasileiro, além de olharmos para frente e vermos que eu não tenho dúvida da importância que tem as escolas de ensino católico dentro de toda transformação histórica do nosso país”, declarou.
Entre os 100 expositores de organizações, empresas e entidades educacionais, que estiveram presentes na ExpoANEC, o representante das Edições CNBB, responsável por publicar todos os documentos oficiais da igreja, ressaltou que o evento proporciona a “oportunidade de aproximar todos os colégios, instituições católicas do magistério, criando essa comunhão da igreja, fortalecendo a nossa missão de evangelizar”.
Conferência de encerramento e anúncio do próximo Congresso Nacional da ANEC
O VII Congresso Nacional de Educação Católica deixou como legado uma mensagem clara e corajosa: a escola católica, ao mesmo tempo, enraizada na tradição da Igreja e atenta aos sinais dos tempos, deve continuar sendo farol de fé, justiça, inclusão, inovação e esperança. Em um mundo fragmentado, onde a técnica avança mais rápido que a ética, educar com base no Evangelho é mais necessário do que nunca.
Ao agradecer pela realização de mais um grande evento, Padre João Batista, diretor-presidente da ANEC, destacou o compromisso da instituição com a formação humana integral. “A educação é capaz de transformar a vida de uma pessoa e de uma sociedade. Que este congresso nos renove na missão e no compromisso com uma educação de qualidade, guiada pela fé e pela esperança”, declarou.
Já a Ir. Iraní Rupolo, vice-presidente da ANEC, reforçou o caráter transformador da educação e chamou os participantes a aprofundarem reflexões e práticas que respondam às múltiplas realidades do Brasil. “Precisamos formar instituições que sejam o coração pensante da sociedade, voltadas à justiça, à solidariedade e ao desenvolvimento sustentável”, disse.
Ao final do evento, foi anunciado que a cidade do Rio de Janeiro será a sede do próximo Congresso Nacional de Educação Católica, a ser realizado em 7, 8 e 9 de julho 2027.
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THAIS MOREIRA CIPOLLARI
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