Para Natalia Pasternak, microbiologista e presidente do Instituto Questão de Ciência, os resultados são promissores e preliminares. “Eles fizeram uma boa fase 1. Usaram uma estratégia interessante, com dois adenovírus diferentes. Funcionou bem, eles conseguiram uma boa resposta de anticorpos compatível com pessoas que já tiveram a doença. Investigaram também linfócitos T e tiveram uma boa resposta”, explica a microbiologista.
Ela ressalta que a fase 1 teve um número pequeno de participantes, a maioria homens jovens, e que as próximas fases precisam de mais diversidade. “Por enquanto são resultados promissores. A vacina não deu efeitos colaterais graves, deu uma boa resposta, bons marcadores de imunidade”, completa Natalia.
Julio Croda, infectologista da Fiocruz e professor da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), diz que a publicação mostrou que a vacina tem segurança, que produz anticorpos e gera uma resposta imune, apesar da amostra ser bem limitada.
“Estudos prévios mostram que uma imunidade duradoura está mais relacionada à imunidade celular, e não ao anticorpo que circula no sangue. Isso não é um fato novo dessa vacina, mas prova que ela gera essa imunidade celular”, avalia Croda.
O presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações, Renato Kfouri, disse que o resultado é importante, mas ressalta que ainda falta a fase 3, em que a vacina é testada em um grande número de pessoas.
Resposta imune forte e de longo prazo
Segundo os resultados publicados, referentes às fases 1 e 2, não houve efeitos adversos até 42 dias depois da imunização dos participantes, e todos desenvolveram anticorpos para o novo coronavírus (Sars-CoV-2) dentro de 21 dias.
Os cientistas do Instituto Gamaleya, que desenvolveu a vacina, disseram à imprensa que essa resposta foi maior do que a vista em pacientes que foram infectados e se recuperaram do novo coronavírus naturalmente.
A vacina russa foi testada em 76 pessoas. Todas receberam uma forma da vacina, sem grupo de controle.
Além disso, os resultados também sugerem que a vacina produz uma resposta das células T, um tipo de célula de defesa do corpo, dentro de 28 dias. As células T têm, entre outras funções, destruir células infectadas por um vírus. Os cientistas do Gamaleya afirmaram que as respostas de células T vistas com a vacina indicam não só uma resposta imune forte, mas de longo prazo.
Etapas
As fases 1 e 2 dos testes de uma vacina buscam verificar a eficácia e a segurança delas, ainda com menos participantes que a fase 3. Normalmente, os testes de fase 1 têm dezenas de voluntários, os de fase 2, centenas, e os de fase 3, milhares.
Na fase 3, o objetivo dos testes é verificar a eficácia em larga escala. Nesta etapa, a Rússia pretende chamar 40 mil voluntários. As fases costumam ser conduzidas separadamente, mas, por causa da urgência dos resultados, várias vacinas têm sido testadas simultaneamente em mais de uma fase.