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05/04/2022 às 18h40min - Atualizada em 06/04/2022 às 00h00min

Protocolo de atendimento em atleta espanhol gera polêmica

Fábio Oliveira, fisioterapeuta brasileiro, esclarece

SALA DA NOTÍCIA Redação

O caso do jogador de tênis espanhol Rafael Nadal foi muito discutido mundialmente, após confirmação de lesão na costela. Nadal é reconhecido como um dos melhores do mundo e estava na disputa do Masters 1000 de Indian Wells quando sentiu dores nas costas e recebeu atendimento do fisioterapeuta da equipe. Desde o jogo anterior (semi-final), Nadal vinha relatando dores nas costas (na região torácica).

Após o jogo, onde ele recebeu o pronto atendimento, um exame de imagem constatou uma fratura por estresse na costela, supostamente causada pela manobra do profissional que o socorreu. Todo o caso fez com que o atleta ficasse fora de competições por um período de 4 a 6 semanas, pelo menos,  e a conduta do fisioterapeuta passou a ser questionada. 

Fábio Oliveira, um renomado fisioterapeuta brasileiro, que atua no circuito profissional de tênis, defende que a conduta de atendimento ao atleta foi correta e seguiu os protocolos profissionais. Segundo ele, a lesão não ocorreu devido às manobras do atendimento. 

O caso segue gerando bastante discussão no mundo do tênis. E Fábio pontuou algumas questões a se considerar nesses casos!

1. O fisioterapeuta errou em realizar aquela manobra?

De jeito nenhum! Eu acho que se ele soubesse do diagnóstico de fratura por estresse, ele não executaria a manobra.

Mas, o que devemos levar em conta é que o sintoma apresentado pelo jogador (dor na região da coluna torácica ao respirar) é totalmente condizente com um desconforto ou bloqueio vertebral. Esse acometimento é geralmente resolvido com manipulação vertebral. Que foi o que o fisioterapeuta fez.

Além disso, Nadal teve boa movimentação durante todo o jogo. Embora o seu desempenho de Nadal tenha sido, claramente, abaixo do seu potencial (mas isso pode ser devido à outros fatores, como fadiga devido ao acúmulo de jogos e etc.), o jogador não apresentava nenhum sinal em quadra que pudesse ser suspeito de uma lesão moderada à grave.

Finalmente, baseado no índice de fraturas por estresse vs. desconforto/bloqueio torácico, a ocorrência do bloqueio torácico é muito maior à uma fratura por estresse na coluna, que são casos raros. Então, o fisioterapeuta escolheu uma manobra para resolver um acometimento com maior possibilidade de ocorrência, e que vai de encontro às diretrizes da ATP.

2. Houve negligência? O tempo de avaliação foi insuficiente ou o tempo de assistência foi curto demais para identificar uma lesão desse nível?

O tempo de atendimento não prejudicou em nada a assistência.

Muito se tem falado que o fisioterapeuta entrou em quadra e nem sequer avaliou o jogador.

Essa análise está sendo feita apenas sobre a segunda assistência. Na verdade, a avaliação foi feita na primeira assistência, na sala médica, longe do público.

Apesar de ser uma avaliação clínica, ela não inclui, em hipótese alguma, exames de imagens (que são os únicos métodos que poderiam detectar a tal fratura por estresse na costela descoberta após o jogo).  Acredito que, na primeira avaliação, o médico e o fisioterapeuta tenham chegado à conclusão de que se tratava de um bloqueio vertebral, que é um acometimento muito comum. De fato, os sintomas apresentados pelo jogador são totalmente compatíveis com um desconforto ou bloqueio vertebral.

É importante relembrar que o fisioterapeuta não tem um limite de tempo pré-estabelecido para avaliar um jogador em quadra. No entanto, o regulamento recomenda que seja utilizado um tempo “razoável” para garantir a integridade física dos jogadores e para a continuidade do jogo, levando em consideração os espectadores, TV, adversário, etc.

Nesse contexto, as avaliações podem ser realizadas no intervalo entre os “games” ímpares (chamado change over – 90 segundos) ou no intervalo entre sets (set break – 120 segundos). Caso mais tempo seja necessário para avaliar ou tratar uma condição que o jogador apresenta, o fisioterapeuta pode solicitar ao árbitro da partida ou ao supervisor do torneio, um tempo adicional, de no máximo 3 minutos, para realizar o tratamento ao jogador. Esse tempo adicional é chamado de “medical time out”

Visto que a condição do atleta já havia sido avaliada, não havia a necessidade de se fazer outra avaliação em quadra. Por esse motivo, o fisioterapeuta entrou em quadra e usou apenas o tempo de intervalo para tratar o jogador (ou seja, ele não solicitou o “medical time out” para a assistência).

Então, é um equívoco dizer que o fisioterapeuta foi negligente por não reavaliar o jogador ou por não usar mais tempo para atender ao jogador em quadra.

Aliás, ele poderia ficar toda a tarde avaliando o jogador e a fratura não seria detectada sem um exame de imagem (uma radiografia, por exemplo).

3. Já que o fisioterapeuta seguiu o protocolo da ATP, podemos dizer que o protocolo é falho?

Sempre há espaço para melhoria, mas não diria que é falho por conta desse episódio. 

Aliás, não há um protocolo fechado do que fazer para cada situação, como em uma receita de bolo. Existem diretrizes, linhas de condutas e recomendações. 

Neste caso, a manipulação vertebral é a técnica preferida para esse tipo de desconforto.

4. A manobra do fisioterapeuta pode ter causado ou agravado a lesão no Nadal?

Pouco provável! A fratura por estresse é um acometimento gradativo. Não aconteceria assim, com uma manobra.

Existe uma possibilidade baixa, na minha opinião, da manobra ter agravado a lesão visto que, geralmente, esse é um acometimento estável. Tudo é mera especulação. Ninguém pode afirmar isso porque não se conhecia a lesão antes da manobra. Então, é leviano e injusto dizer isso!

5. O que diz a ciência sobre esse tipo de lesão?

Dentre vários, estudos epidemiológicos, apenas um (Lynall et al. 2015) reporta fratura por 

estresse dentre as lesões ocorridas no tênis. A lesão representou 0.6% de todas as lesões (e nem era na costela). Já o desconforto torácico (aliviado com manipulação vertebral) não é raro! 

6. E se fosse eu? 

Eu também estaria nesses maus lençóis, pois eu faria exatamente o que o fisio em 

quadra fez. Aliás, já apliquei essa manobra várias vezes em situações semelhantes.

7. É difícil atender à um jogador com muitas pessoas olhando. A pressão de ter muitas pessoas olhando pode ter deixado o fisioterapeuta ansioso e isso pode ter atrapalhado a avaliação do fisioterapeuta?

Não creio. Os fisioterapeutas que atuam naquele nível não se sentem pressionados para esse tipo de atendimento em quadra. Os fisioterapeutas da ATP estão altamente acostumados com aquele ambiente, com esse tipo de assistência, e conhecem o Nadal há vários anos. 

O fisioterapeuta agiu corretamente, alinhada com as diretrizes da Comissão Médica da ATP e, totalmente, dentro do que se espera de um atendimento rápido em quadra.


 
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