A França anunciou o aporte de 200 milhões de euros para destruir excedente de vinho e apoiar produtores no país. A medida visa combater a superprodução e elevar os preços da bebida.
O montante, que ultrapassa o valor de R$ 1 bilhão na conversão atual, será usado para comprar o estoque excedente do produto, além de destinar o álcool produzido para outros setores, como o de produtos de limpeza e perfumaria.
A produção de vinho na França atravessa uma crise devido à queda de preços de venda da bebida, que estão abaixo do valor investido na produção. Fatores como inflação e mudança de hábito de consumo da população também influenciam na piora da situação.
Segundo dados da Comissão Europeia, o consumo de vinho na França teve queda de 15% no primeiro semestre de 2023. A diminuição na comercialização da bebida também foi observada em outros países, como Itália (7%), Espanha (10%), Alemanha (22%) e Portugal (34%).
“A ação do governo francês de reservar 200 milhões de euros para destruir vinhos e impulsionar os preços é uma resposta direta ao excesso de produção e à queda acentuada dos preços, que afetam financeiramente um em cada três produtores na região de Bordeaux”, explica Brunno Magnavita, fundador da Elite Vinho, empresa especializada na importação e distribuição de vinhos.
Magnavita explica que além da oferta e demanda, outros fatores influenciam na definição dos preços atrelados aos vinhos, como a qualidade da uva, o terroir (conjunto de características geográficas, geológicas e climáticas que influenciam a videira), o processo de vinificação, o envelhecimento e armazenamento, e a reputação da vinícola ou região.
“Em alguns casos, a raridade de um vinho, seja pela idade ou por ser de uma produção limitada, pode elevar significativamente seu valor”, diz Magnavita, sobre vinhos de safras excepcionais, produzidos em regiões renomadas ou por vinícolas de prestígio.
Apesar da queda do consumo em alguns países europeus, o mercado global de vinhos vive expectativa de crescimento. De acordo com o relatório da Mordor Intelligence, o setor deve registrar uma taxa de crescimento anual de 4% até 2028.
No Brasil, o consumo de vinhos aumentou consideravelmente nos últimos anos. A expectativa é que o consumo de vinho no país dobre até 2026, passando dos 40 milhões de litros, segundo dados de pesquisa da Euromonitor International.
Produção mais sustentável
Para Magnavita, a estratégia adotada pela França aborda uma questão econômica imediata, mas ignora considerações mais amplas sobre sustentabilidade e ética. O executivo classifica a ação do governo francês para impulsionar o mercado de vinhos no país como contrária a preocupações globais, como o combate ao desperdício de alimentos e a luta contra o desgaste de recursos naturais, usados na produção da bebida.
“Destruir vinhos não vendidos não só vai contra os princípios de combate ao desperdício de alimentos e recursos naturais, mas também contradiz os esforços globais de sustentabilidade e responsabilidade ambiental”, afirma Magnavita.
O sommelier aponta a urgência em ações mais sustentáveis, como práticas de vinificação ecologicamente corretas, diversificação de produtos, exploração de novos mercados internacionais, doações para caridade, controle de produção e incentivo à produção sustentável.
“A adoção de métodos inovadores e responsáveis de produção e distribuição, que levem em conta tanto a viabilidade econômica quanto o impacto ambiental e social, pode abrir caminho para um futuro mais sustentável e ético na viticultura”, aponta Magnavita.
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