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18/02/2022 às 18h48min - Atualizada em 19/02/2022 às 00h01min

Transformação Digital: como a tecnologia disponível e os planos das autoridades fiscais mundiais irão afetar as operações e a gestão das empresas

Por: Carolina Alencar, Advogada, Contadora e Head de Produtos da Nutax Digital

SALA DA NOTÍCIA Carolina Alencar

A essa altura, todo mundo já ouviu falar em digitalização. Há algum tempo organizações ao redor do globo têm focado esforços em alterar seus dados físicos armazenados mecanicamente para formas digitais. A digitalização trouxe eficiência operacional para os negócios, mas será a digitalização um fim em si mesma?

 Com o desenvolver exponencial das tecnologias, um novo mundo surgiu na realidade dos negócios: o digital. A Era Digital traz consigo uma ruptura, uma disrupção na forma de se pensar e fazer negócios. Nessa mudança, digitalizar dados é o início de uma jornada de profunda transformação estrutural na visão, nos comportamentos e nas relações de negócio.

Nesse contexto complexo, a transformação digital não se resume em adotar novas tecnologias nos atuais processos produtivos e de gerenciamento, mas se trata da forma como estamos lidando com as tecnologias e seus potenciais.  Um novo tipo de organização está surgindo, na qual a tecnologia estará no centro, será a estrutura dos processos e permeará as áreas, os produtos, os costumes e a cultura. Esse novo mundo é uma realidade imediata na qual a maior parte das organizações ainda não começou a se preparar. Barreiras internas e externas precisam ser quebradas desde já, pois a falta do digital significará a extinção de muitas organizações.

Adaptações Vs facilidades e otimizações

Nesse mesmo sentido, organizações governamentais também estão em processo de mudança. No mundo inteiro vemos surgir iniciativas, muitas vezes em conjunto, de autoridades fiscais que tem por objetivo transformar seus próprios trabalhos em algo digital e automatizado, de forma que eles possam focar no que realmente trará o maior retorno e, principalmente, poder trabalhar em tempo real e não mais no limite de evitarem uma prescrição. Por meio de transações digitais (e-commerce, bancos digitais, pagamentos digitais, uso de blockchain etc.), a autoridade fiscal tem cada vez mais acesso a dados em tempo real, possibilitando não só auditorias mais eficientes, mas também uma mudança na forma de se taxar e receber tributos.

Na realidade tributária atual das empresas, a adoção de tecnologia por parte das autoridades tem possibilitado auditorias digitais mais acuradas e forçado o contribuinte a adotar meios digitais para entrega de declarações, emissões de notas fiscais e comunicação com a autoridade pública. A possibilidade de soluções de análise de dados substituírem em tempo real as obrigações acessórias e as fiscalizações exigem que cada vez mais as empresas se atualizem e tenham uma gestão fiscal mais inteligente. Nesse sentido, a área fiscal terá que fazer parte do gerenciamento da entrada de dados na empresa, alterar os controles detectivos para controles automatizados preventivos, assim como dispor dos mesmos meios e dados que as autoridades fiscais dispõem, a fim de melhorar o tempo de reação à exigência de conformidade regulatória e diminuir a exposição à malha fiscal.

Essas não são as únicas pressões que a área fiscal de uma empresa tem enfrentado, há também a interna por atingir eficiência operacional por meio da tecnologia, muitas vezes traduzidas em economia financeira por redução de horas de trabalho. Em algumas empresas, a mudança do mindset de se ter economia em horas operacionais para o desenvolvimento de novas atividades de inteligência fiscal por meio da tecnologia, é uma realidade insipiente e talvez ainda careça de uma visão clara, método e investimentos assertivos.

 O ambiente digital trouxe oportunidades e grandes desafios. O fato é que a era digital não é mais uma escolha, é uma realidade. E nesse contexto se tem discutido o que será desdobrado dessa onda de disrupção digital nas áreas, processos e funções fiscais e tributárias nas empresas e como implementar essas mudanças.

 Será que a tecnologia aplicada à realidade fiscal e tributária resultará na simples digitalização e automatização dos atuais processos e no atendimento à demanda cada vez mais presente da autoridade fiscal?

Trabalhando na área e conhecendo a potência das novas tecnologias, acredito que não! Isso porque a tecnologia vai mudar a relação entre a autoridade fiscal e o contribuinte. A tecnologia vai proporcionar oportunidades tangíveis de reformas tributárias, de simplificações, de transparência, de rastreabilidade, de trabalhar em tempo real na velocidade em que as transações do negócio ocorrem. O foco vai mudar da reação para a participação, projeção, simulação e desenho de estratégias corporativas para o futuro da organização.

A realidade tributária não mais será vista como algo separado da realidade do negócio, como algo que “quanto menos se ouvir falar, melhor deve estar funcionando”.  Acreditamos que estamos dando os primeiros passos para o desenvolvimento de uma inteligência fiscal aplicada aos objetivos do negócio. E, como todos sabem, na era digital se salta dos primeiros passos para um vôo a céu aberto em um piscar de olhos.

Em função dos resultados alcançados em outras áreas das organizações, a área fiscal tem sido impelida a adotar tecnologias, como a automatização robótica de processos (RPA), com um viés primário de economia processual. Mas para muito além disso, tecnologias disponíveis atualmente, como o BIG DATA, aliado à poderosas ferramentas de análise, podem transformar grandes volumes de dados em: INTELIGÊNCIA APLICADA. Nesse sentido, a área fiscal precisa passar a ver os dados não somente como subproduto de suas atividades compulsórias, mas como um ativo que pode alavancar o atingimento dos objetivos da empresa. Portanto, a tecnologia pode sim trazer economia processual fiscal com automatizações e pode aumentar o nível de compliance tributário, mas principalmente pode gerar valor para empresa à medida em que possibilita projeções, simulações e insights estratégicos que influenciam o direcionamento da empresa.

Esse novo cenário tecnológico muda completamente a localização da área e profissionais tributários nas organizações. Será um diferencial competitivo para a empresa que adotar e souber manejar primeiro tais possibilidades, passando a ser uma necessidade de sobrevivência intrínseca aos negócios à medida em que essas tecnologias forem mais acessíveis e absorvidas como algo comum a qualquer empresa e no currículo de todo profissional.

Em termos práticos, toda carga de informações que a área fiscal atualmente já reporta ao governo (declarações e notas fiscais eletrônicas) pode ser manejada por ferramentas de análises de dados. Aliadas ao conhecimento do negócio e do conjunto de regras fiscais as quais as operações se submetem, se tem a possibilidade de análise, insights, simulações e projeções de cenários estrategicamente mais vantajosos para a empresa.

 Tais cenários não se restringem a questões estritamente fiscais como diminuição da carga tributária, identificação de oportunidades fiscais, simulação de alterações de legislação que impactarão o negócio, gestão de incentivos ou melhor aproveitamento de saldos acumulados de crédito. Abrangem também estratégias de compras mais baratas, adoção de operações mais econômicas, estruturas societárias mais lucrativas, mudanças nos processos produtivos e logísticos para uma maior eficiência financeira e identificação de oportunidades que refletirão nos preços praticados e resultados reportados.

Nós sabemos que essa mudança de mindset para uma cultura orientada por dados não é uma trajetória fácil. Sabemos que os gestores atuais têm se dividido entre manter o negócio e serem disruptivos a tempo de não perderem vantagem competitiva. Tudo é muito novo, o terreno é inexplorado e há muita romantização, especulações e oportunismo em torno dessa ideia de transformação digital. Portanto, não subestime a jornada, muitas empresas têm falhado nessa empreitada, mas também não perca o timing de iniciá-la.


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