Geração de novos empregos ou demissões em massa? Resposta pronta ou abertura para a crítica? Nos últimos meses, diversos profissionais vêm discutindo essas e muitas outras questões em razão do lançamento de um modelo de linguagem artificial, lançado em novembro de 2022 pela OpenAI, que já está inovando em diferentes áreas: o Chat GPT. A ferramenta, capaz de compreender e responder inúmeras perguntas de usuários, em formato de diálogo, a partir de um volumoso banco de dados, está causando preocupação pela possibilidade de substituir muitas tarefas humanas.
Para Kátia Cristina Marcolino, professora e coordenadora dos cursos de T.I da FAEP, em termos de tamanho, o Chat GPT é um dos modelos de linguagem mais massivos já criados, com capacidade de processar, entender um volume gigantesco de dados textuais, possibilitando que o modelo gere respostas mais precisas e relevantes. Segundo a UBS Group, em janeiro de 2023, dois meses após ser lançado, o recurso atingiu a marca de 100 milhões de usuários. O Tiktok demorou 9 meses para atingir essa marca e o Instagram dois anos.
Em março deste ano, mais uma novidade: a OpenAI lançou o Chat GPT 4, uma versão mais aprimorada do Chat GPT capaz de produzir imagens junto ao conteúdo textual gerado. Tudo isso sem contar os novos modelos de inteligência artificial que já surgiram e ainda vão surgir, como é o caso do Bard, lançado pelo Google em fevereiro como um serviço experimental. No entanto, há poucos dias, milhares de especialistas da computação, cientistas e empresários da tecnologia assinaram uma carta aberta, solicitando uma pausa de 6 meses no treinamento de IA, similares ao GPT 4, sob a justificativa de que os laboratórios de IA estariam em “uma corrida descontrolada para desenvolver e implantar mentes digitais cada vez mais poderosas”, as quais não seriam mais controladas nem por seus criadores.
De acordo com a Prof. Kátia, apesar das preocupações, cabe aos usuários desenvolverem um olhar crítico e questionador em relação às informações fornecidas pela tecnologia, para que possam usá-la de forma ética e responsável. Todas as respostas da IA são baseadas em consultas realizadas em conteúdos encontrados na internet, desenvolvidos por determinados autores. Portanto, apropriação e uso indiscriminado dessas informações podem ser caracterizados como plágio. “Precisamos também nos capacitarmos para a utilização correta das ferramentas, com responsabilidade e com atenção para a segurança e privacidade dos dados pessoais que poderão ser utilizados ou manipulados. É preciso, principalmente, ter clareza de suas limitações. ”
Mas, uma das maiores preocupações de muitos sobre a ferramenta, segundo a educadora, é a veracidade das informações apresentadas e a credibilidade cega pelos seus usuários. “Os robôs tradicionais de buscas como o Google fornecem a fonte da informação, o que possibilita fazer algumas checagens, como saber se o site é uma fonte conhecida, se as informações apresentadas normalmente são fiéis aos fatos, se o posicionamento é neutro. Já as ferramentas de inteligência artificial como o ChatGPT conversam com o usuário como uma pessoa, o que chamamos de linguagem natural e não apresentam tais fontes durante esse diálogo.” Mas, diante das fake news propagadas em larga escala, cabe ao leitor ou ouvinte, portanto, saber se proteger e aprender como checar as informações, ao invés de condenar o tipo de ferramenta, ou meio de comunicação de onde vem a informação.
No âmbito educacional, a coordenadora destaca a necessidade de os educadores apropriarem-se dessas ferramentas e escolher as que sejam mais aderentes à sua disciplina ou atividade em específico. É fundamental que se sintam confortáveis e confiantes em utilizá-las, para apresentá-las e trabalhá-las em conjuntos com seus alunos, com objetivos e propósitos pré-estabelecidos. “Enquanto estiverem enxergando-as como inimigas ou ameaça, é impossível criar uma sinergia e seu uso não será disruptivo, acontecerá apenas a aplicação da IA como uma ferramenta de busca convencional, tendo suas principais características e diferenciais subutilizados ou mau utilizados", enfatizou a professora.
Para a Prof. Kátia, no formato educacional atual, o aluno é treinado para ouvir, ler e responder. Ele é educado para dar respostas, nunca fazer perguntas, nem é encorajado a questionar o que é proposto. Alunos sempre foram condicionados a acatar como verdade única e absoluta a informação repassada pelo professor. “Agora, é preciso quebrar esse paradigma e sair de nossa zona de conforto, incentivando os alunos a questionar, criando mecanismos, técnicas de como realizar perguntas complexas para obter respostas mais assertivas e completas utilizando essas ferramentas. Devemos, principalmente, orientá-los a contestar, verificar essas respostas apresentadas por elas, buscando, confrontado e interpretando outras fontes de pesquisa.” Esse, sim, é o momento de repensar em que novo formato poderemos oferecer essas atividades e qual será a forma que iremos avaliar sua qualidade e entrega.
E por fim, para a professora, tal recurso poderá revolucionar muitas áreas profissionais, tornando acessíveis informações que antes não eram possíveis devido ao grande volume ou tempo de processamento, facilitando, assim, o acesso informacional para comunidades de baixa renda ou locais afastados dos grandes centros. E, embora haja especulações sobre a extinção de profissões e empregos nos próximos anos em algumas frentes, há uma alta demanda por profissionais de tecnologia da informação. Diante disso, a educadora alerta sobre a necessidade de todos se atualizarem profissionalmente, independentemente da área ou profissão, para adquirir um diferencial competitivo que poderá ser decisivo para a permanência e sucesso no novo mercado de trabalho em transformação.