Na próxima semana, o Copom - Comitê de Política Monetária do Banco Central se reúne para decidir os rumos em relação à taxa básica de juros, a Selic. A reunião acontece em um momento em que o mercado está otimista com a decisão. Nesta terça (25), o IBGE divulgou dados sobre o IPCA-15, que veio com deflação de -0,07%. Essa foi a primeira variação negativa do indicador desde setembro de 2022, quando o índice caiu 0,37%.
Na última semana também, o Ministério da Fazenda elevou a estimativa oficial do PIB para 2,5% em 2023. No último mês de maio, a projeção era de alta de 1,91%. Para 2024, o Ministério também reduziu a estimativa para a inflação oficial para 3,30% enquanto em maio a projeção era de 3,63%.
Rodrigo Azevedo, economista e sócio-fundador da GT Capital, acredita que, em meio a esse cenário mais otimista, é possível esperar que o Banco Central reduza os juros em 0,25% na próxima reunião e que haja novas quedas ao longo do segundo semestre, possivelmente subindo o nível de redução até o final do ano. Para ele, até o momento, a decisão de manter a taxa em 13,75% foi correta.
"Na minha opinião, a postura do presidente do Banco Central foi muito acertada, apesar da pressão muito grande, mas foi necessário. O Brasil tem um histórico de entender e saber lidar com a inflação, enquanto temos outros países mais desenvolvidos que nós com dificuldades de conter a inflação. Ao analisar os números, acredito que a partir de agora deve-se iniciar uma queda de 0,25% na próxima reunião, o que será muito benéfico, pois no momento que a taxa de juros cai, gera-se um incentivo para o empresário e a indústria faz mais investimentos no seu negócio. Ter uma taxa de juros mais baixa vai fazer com que a população busque financiamentos e que as empresas destravem e façam investimentos necessários", afirma.
Já Carlos Hotz, planejador financeiro e sócio-fundador da A7 Capital, acredita que o mercado já vem observando uma queda nas taxas de juros futuras devido à expectativa consolidada de que o Banco Central vai cortar os juros nos próximos meses e derrubar a Selic para perto de 12,00% ao ano até o final de 2023, ante os 13,75% atuais. Ele diz que, diferente de uma boa parte do mercado, acredita em um corte de 0,50 ponto da Selic em agosto.
"Na nossa visão, a inflação de serviços pode ter um rápido ajuste, não precisa de três, quatro, cinco meses", disse Hotz. De acordo com ele, com os preços de transportes e alimentos se ajustando para baixo e a economia rodando com juros reais de aproximadamente 10%, há espaço para um corte de 0,50 ponto porcentual na Selic antes mesmo de haver desaceleração na inflação de serviços.
Por outro lado, Ricardo Jorge, especialista em renda fixa e sócio da Quantzed, acredita em uma possível queda de 0,25% na próxima reunião, já que não viu qualquer evento local novo que justificasse uma aceleração da queda que levasse a uma diminuição maior de juros.
Para o especialista, ainda pode ser interessante para o investidor aplicar em prefixados, porém sabendo que o ganho será menor do que se tinha meses atrás. "Quando se tem um cenário de queda de taxa de juros, o melhor investimento são os investimentos prefixados, mas a gente já está muito próximo de iniciar o corte e o mercado já precifica isso antecipadamente, então o melhor momento para se comprar prefixado foi quando a expectativa com relação às taxas de juros ainda estavam altas e esse movimento já passou. O ponto de inflexão já aconteceu desde meados de março, ou seja, ainda existe um prêmio a ser capturado em investimentos prefixados, mas é um prêmio mais magro com um risco maior agora", comenta.
Ricardo recomenda ter uma parcela menor em prefixados e ressalta que, para o momento atual, faz mais sentido investir em ativos indexados ao IPCA porque qualquer evento que faça a inflação voltar a subir gera um ganho adicional do carrego do papel. Em contrapartida, o investidor acaba sofrendo um pouco também com a parcela prefixada. "A estratégia para capturar algum movimento especulativo ficou com a margem muito estreita, então agora o investidor tem que se contentar com receber menos e ainda mais ter a estratégia de carregar para o vencimento mais do que nunca", diz.
Para Rodrigo Cohen, analista de investimentos e co-fundador da Escola de Investimentos, o Banco Central irá optar por uma queda de 0,25% nos juros e seguir uma linha mais cautelosa de queda mais lenta. “Até agora, o Copom não tem se mostrado tão agressivo em decisões de política monetária, então eu acho que o comitê vai seguir à risca a cartilha e reduzir em 0,25% mesmo com o IPCA-15 vindo melhor que o esperado”, diz.
De acordo com Cohen, a renda fixa ainda assim irá continuar atrativa, mesmo que o mercado já tenha precificado as quedas, afinal a taxa ainda permanecerá alta, pois as quedas serão em ritmo mais lento. Em relação à bolsa, Cohen acredita que vale esperar o Ibovespa voltar, pois subiu demais. “Eu esperaria voltar um pouco, pois estamos com uma alta exagerada, como acontece principalmente com as empresas ligadas a commodities. Com os juros caindo cada vez mais, acho que vale a pena também nos próximos meses investir em fundos imobiliários”, comenta.
Segundo Ana Paula Carvalho, planejadora financeira e sócia da AVG Capital, apesar de haver perspectiva de cortes nas taxas de juros, a aplicação em renda fixa pós-fixada continua valendo a pena para papéis de até dois anos, pois a taxa deve cair, mas de forma moderada.
Na visão de Ana, os títulos prefixados estavam mais atrativos há alguns meses quando o mercado ainda não enxergava a queda da taxa Selic. Com os últimos dados de inflação e a possibilidade mais próxima de queda dos juros, as curvas futuras caíram e as taxas dos títulos prefixados acompanharam essa queda. "Desta forma, os títulos com maiores prêmios são os de longo prazo, de quatro anos ou mais, porém aqui o risco é maior, pois envolve muitas incertezas no meio do caminho, como alta de inflação, uma política fiscal expansionista ou mudanças na condução do BC, o que levariam à necessidade de subir novamente a Selic", afirma. Por isso, a especialista acaba dando preferência aos investimentos em títulos pós-fixados e os que remuneram de acordo com o IPCA.
Douglas Medeiros, sócio da Matriz Capital, acredita que o investidor, iniciante ou não, precisa priorizar nesse momento a escolha de títulos que possuem liquidez. "Desse modo, ele não fica com o seu capital preso a um único investimento, podendo tomar decisões rápidas e acompanhar a mudança do mercado", analisa. Ele também ressalta que, mesmo com taxas atraentes, o investidor deve ter o cuidado de analisar quais são as empresas emissoras dos títulos, se elas são saudáveis ou não. E, se for investir em títulos públicos federais, por exemplo, qual o vencimento do título, pois ele corre o risco de ter o seu dinheiro investido em um título muito longo, que, em uma mudança de cenário de taxa de juros, deixa de ser atraente.