"Esse reservatório é feito com garrafa pet e corda de nylon. É simples e os resultados são excelentes. Temos exemplo de um produtor em Queimadas, no Nordeste da Bahia, que, com essa tecnologia, conseguiu salvar a produção por 15 dias", exemplifica Camila Oliveira, assessora da Fundação de Apoio à Agricultura Familiar do Semiárido da Bahia (Fatres), que desenvolveu a "batata" em conjunto com pequenos produtores.
A Fundação nasceu em 1996 e, desde então, busca alternativas para ajudar comunidades rurais. "Numa escala de 720 agricultores atendidos hoje pela Fatres, 400 utilizam a "batata de salvação". Algumas famílias conseguem ir além da subsistência e produzem para vender, explica Camila Oliveira.
Água da chuva
Outro exemplo de boa convivência com o sertão vem de uma pequena propriedade em Riachão do Jacuípe, a 186 KM de Salvador. O produtor rural Eduardo dos Santos começou a armazenar água da chuva e hoje tem uma diversidade de culturas: planta cana, sisal, limão, laranja, hortaliças, tudo sem uso de agrotóxicos, e ainda cria cabras e vacas leiteiras.
Ele conta que, no período chuvoso, a água é coletada em dois barreiros e duas cisternas que acumulam juntas mais de cem mil litros. Isso diminiu a dependência do produtor de fontes externas de água, como os caminhões-pipa.
Nos últimos 20 anos, Eduardo transformou uma terra que não tinha nada em uma fazenda produtiva com a ajuda do Movimento de Organização Comunitária (MOC). É uma Ong baiana que oferece capacitação e assistência técnica de graça a mais de mil e quatrocentas famílias em oito municípios do sertão, há mais de 50 anos. Os técnicos ensinam a plantar variedades que se dão bem no clima quente e a estocar água e alimentos.
"A gente vem tentando mudar e conseguimos com várias famílias que estão produzindo, que estão tendo qualidade de vida, estão tendo renda e é com isso que a gente consegue manter o homem do campo na propriedade", diz Ivamberg Silva, técnico agropecuária do MOC.
Por tudo isso, a propriedade de Eduardo hoje é uma referência na região. Três vezes por mês ele abre a fazenda para outros agricultores, pesquisadores e estudantes. Todos em busca de bons exemplos.
"O sertão é viável economicamente, tanto é que eu com 55 tarefas de terra, 24 hectares, consigo ter renda de 500, 600 no semiárido. Então, é só aplicar as tecnologias hoje existentes (...) que a gente consegue ter um semiárido justo, um semiárido onde todos desejam morar", diz Eduardo dos Santos.
Fruta sagrada
Sustento de mais de 300 produtores rurais de Uauá sai do umbu — Foto: Reprodução/ TV Bahia
Em Uauá, no norte do estado, o umbuzeiro também é referência. É do fruto, do umbu, que cerca de 300 produtores de uma das áreas mais secas da Bahia, passaram a ganhar o sustento. Eles começaram a se organizar em 1990, mas a cooperativa só entrou em atividade em 2003. O umbu, fruta típica do semiárido, virou fonte de renda para eles. Doces e até cerveja são produzidos e exportados. Os cooperados, que fornecem também goiaba e maracujá da caatinga, são remunerados com preço acima do valor de mercado.
A Cooperativa Agropecuária Familiar de Canudos, Uauá e Curaçá (Coopercuc) nasceu da vontade de prosperar em meio a um clima de aridez. E, a partir do ano que vem, a cooperativa vai dar mais um passo na valorização das frutas produzidas na região de Uauá. Vai começar a fabricar polpas e sucos. A ideia é trabalhar com frutas que ainda não são processadas na cooperativa, mas que também são plantadas em municípios vizinhos, como caju, abacaxi e acerola e, quem sabe, aumentar o número de cooperados.
Produtos feitos a partir do umbu são comercializados por cooperativa na Bahia — Foto: Reprodução/ TV Bahia